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Em São João da Madeira, turismo industrial





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            Os espaços museológicos de São João da Madeira denunciam o cariz da cidade, terra da empresa e do trabalho.

            O imóvel no qual se encontra a Torre da Oliva pertenceu à companhia metalúrgica que usava essa firma. Nele estão instalados o posto de atendimento ao turista, o Núcleo Histórico da Oliva e o Museu do Calçado.

            Nostalgia e admiração marcaram a minha passagem pelo Núcleo Histórico da Oliva. Apreciei o grafismo dos anúncios publicitários, rememorei as máquinas de costura e os fogões produzidos por uma companhia que deixou estampa na história industrial portuguesa. Fiquei a saber que ela fabricou diversos tipos de bens de consumo e de bens de produção, por exemplo ferros de engomar, autoclismos, radiadores e salamandras, alfaias agrícolas, tornos de bancada, motores de explosão de pequena cilindrada, equipamentos para chapelarias, padarias e lavandarias industriais. Curvo‑me perante a Obra de António José Pinto de Oliveira, o fundador da Oliva. Sujeitou‑se à sorte, criou emprego. Pagava bem aos trabalhadores, outorgava‑lhes regalias de vária índole, apostava na formação.

            São João da Madeira é e foi lugar de feitura de sapatos, sapatilhas, chinelos e afins, o Museu do Calçado tem aí cabimento. Nele se apresentam: a história da produção do calçado (em vão de escada ou em divisão de uma casa, na oficina, na fábrica); as fases do processo produtivo, a saber, modelação, corte, costura, montagem e acabamento; de jeito especialmente interessante, a evolução do indumento para o pé, desde a pré‑história até aos anos noventa do século xx (destaco a réplica de um sapato de bico revirado, do século xv, e aqueloutra de um sapato de salto‑agulha dos anos cinquenta do século xx); alguns exemplares de sapatos concebidos por criadores famosos, portugueses e estrangeiros (não entendo como pode alguém usar os de Chau Har Lee, creio que só têm valor no mercado da atenção); calçado oferecido por figuras públicas, acompanhado de estórias a ele associadas (achei despropositada esta secção, é típica de um país de bimbos).

            No Museu do Calçado, a maior das fortunas adveio de ter podido visitar a mostra temporária Tendência ou futuro? Calçado e sustentabilidade. Ela evidencia o zelo ambientalista de criadores, fabricantes e consumidores. Todo o cuidado é credor de saudação: no setor da moda, o impacto ambiental da produção de calçado é bem maior do que o valor que essa produção representa.

            Topei artefactos de sapataria biodegradáveis, chinelos de fibra de coco recicláveis, solas que levam resíduos de borracha e solas feitas com detritos de bolas de ténis, verifiquei que, no campo da sapataria, o ecodesign não é palavra vã. O ecodesign, a conceção que tem em conta a ecologia, integra considerações ambientalistas na ideação do produto, com o objetivo de, ao longo do ciclo de vida deste, minimizar as consequências negativas para o meio ambiente.

            Mesmo assim, conseguirei eu acreditar que criadores e produtores se desviam da arrumação subjacente à obsolescência programada?

            Ainda no Museu do Calçado, visitei a exposição Esculturas em Movimento, de Katharina Beilstein. É uma exposição honesta — na apresentação em placar, lê‑se que a artista não «se deixou encantar pelos sapatos enquanto objetos de moda», antes preza as «suas imensas possibilidades enquanto suportes para exploração da forma e da cor». Assim é, à vista estão esculturas (e não sapatos) que oferecem um festim de formas e de cores.

            O Museu da Chapelaria reúne máquinas e outros objetos provenientes de várias fábricas e funciona em edifício onde laborou a Empresa Industrial de Chapelaria. Notei a falta de uma brochura orientadora do visitante, o museu apresenta, de modo que para mim fica a dever à clareza, as fases do processo de produção dos chapéus de feltro.

            Perdi‑me de admiração por algumas máquinas e descobri os «unhas negras».

            Durante algum tempo, a feltragem da lã e do pelo foi levada a cabo por trabalhadores que ficaram conhecidos por «unhas negras» — com as mãos, não protegidas, mergulhavam os feltros numa tina de ferro com água quente e logo os meneavam, em movimentos de pressão e de esfrega. Usavam uma solução que continha mercúrio e que lhes dava cabo da saúde, designadamente da saúde mental. Ao nomear um dos personagens de Alice no País das Maravilhas, o Chapeleiro Louco, Lewis Carrol talvez se tenha inspirado nesses homens.

            Ao meu conceito de civilização subjaz a melhoria das condições de trabalho, por exemplo em matéria de saúde e segurança. Gostaria de acreditar que, nas sociedades evoluídas, o ofício não aza a existência de «unhas negras», de regressos ao passado. Afinal, vou recebendo notícias que me revoltam, eis uma delas: nos últimos anos, para enfrentar a carência de mão de obra, vários estados norte‑americanos flexibilizaram as condições de acesso dos menores ao mercado de trabalho. Quer dizer, retrogradaram‑nas. Adotaram legislação que, inter alia, baixa a idade de acesso a certos empregos, aumenta a duração da jornada de trabalho dos menores e limita a responsabilidade das empresas por danos, doenças ou morte resultantes do seu trabalho. Sei que o lucro é uma abstração e que atrás da abstração se pode correr até ao infinito. Mas isto dói, é próprio de um capitalismo sem arremedo de dignidade e de responsabilidade social.

            A exposição temporária Modistas de chapéus exibe resguardos de cabeça interessantes e abre a imaginação à forma como essas profissionais — demandadas, é certo, por senhoras da alta‑roda — tingiam a sociedade do Estado Novo. Tomado de arroubo nacionalista, saliento Alda Diniz e Luísa Reis Cabral, criadoras que ombreavam com as chapelières francesas.

            Visitei a outra mostra temporária, devotada a chapéus da marca italiana Ilariuss. Acredito que, desde logo em razão do seu caráter distintivo, grande parte deles se destine à cabeça de stars e de starlets ou seja usada em galas e afins. Em virtude do meu sentir estético, e porquanto mentalmente acomodei o que vi ao meu mundo, apreciei os chapéus da série Pop Collection, em particular dois chapéus de palha, um de cor amarela e em forma de estrela, o outro de cor azul e evocativo de um beijo. No que toca a certos espécimes das outras coleções — Black Court, Erotika, Rinascita, Trilogy, El Matador e Cyborg —, confesso, enquanto praticante de BDSM, que só nesse contexto gostaria de ver a minha parceira a usá‑los.

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Paulo Pego
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