Parceiros

(Tempo de leitura: 2 - 3 minutos)


Cinquenta anos depois, é inevitável olharmos para o cerco ao Palácio de Cristal como uma das noites mais sombrias da nossa jovem democracia.

Naquele dia, entre 25 e 26 de janeiro de 1975, a liberdade foi sitiada. Foi um ataque não apenas a um espaço físico, mas ao espírito democrático que emergira do 25 de Abril.

No passado domingo, durante a evocação deste evento, o gesto do presidente da Câmara Municipal do Porto destacou-se. O pedido de desculpa, feito em nome da cidade, não apenas reconheceu o peso deste acontecimento, mas assumiu a responsabilidade coletiva de revisitar, com humildade, os erros do passado. Este gesto simples, mas poderoso, foi um tributo à memória e uma reafirmação do compromisso com os valores democráticos.

A noite do cerco, com a sua violência e intimidação, não foi apenas um episódio isolado. Foi o reflexo de um período de instabilidade e polarização, onde o medo e o extremismo ameaçaram sufocar o pluralismo. Contudo, naquele momento de escuridão, a democracia, embora atacada, prevaleceu. Resistiu porque é resiliente, como a própria vontade de um povo que, depois de décadas de opressão, soube reivindicar o direito de escolher o seu futuro.

Mas os perigos à liberdade não são novidade. Recordei, a propósito, um paralelo histórico. Há 80 anos, na Europa central, em países como a Áustria, assistimos a perseguições sistemáticas que silenciaram comunidades inteiras – judeus, maçons, dissidentes. A liberdade foi esmagada pelo medo, pela intolerância e pela manipulação. A História ensina-nos que, sempre que baixamos a guarda, o autoritarismo encontra forma de regressar.

Este é o verdadeiro desafio da democracia: não é um bem adquirido, mas uma construção contínua, que exige vigilância, esforço e coragem. Quando deixamos de cuidar dela, como quem negligencia uma planta delicada, o terreno fértil onde germinam a liberdade e a igualdade pode facilmente ser ocupado pelo medo e pela opressão.

O pedido de desculpa pelo cerco ao Palácio de Cristal é mais do que um gesto simbólico. É um aviso. É um prenúncio daquilo que acontece quando esquecemos que o diálogo e o respeito pelas diferenças são o coração da democracia. Enfrentar os erros do passado é um ato de coragem que fortalece o presente e protege o futuro.

Que a memória deste episódio nos alerte para os caminhos perigosos que podem levar à erosão dos valores conquistados. Que nunca nos esqueçamos de que o medo é a antítese da liberdade. E que, juntos, continuemos a lutar pelos ideais de Abril, construindo uma democracia que honre aqueles que, tantas vezes, a defenderam ao custo das suas vidas.

Boletim informativo

FOTO DO MÊS

We use cookies
Usamos cookies no nosso site. Alguns deles são essenciais para o funcionamento do site, enquanto outros nos ajudam a melhorar a experiência do utilizador (cookies de rastreamento). Você pode decidir se permite os cookies ou não. Tenha em atenção que, se os rejeitar, poderá não conseguir utilizar todas as funcionalidades do site.