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Fotografia: © Clara de Quadros Flores


Malala Yousafzai encerrou a sua digressão literária em Bruxelas, num evento público na sala La Madeleine, onde apresentou o seu mais recente livro, Finding My Way, repleto de histórias pessoais impressionantes.

Bruxelas recebeu no dia 4 de dezembro a última etapa da tour internacional de Malala Yousafzai, na sala La Madeleine, no âmbito do lançamento do seu novo livro "Finding My Way" — já traduzido em português do Brasil - "No meu caminho". Com 28 anos, Malala continua a inspirar milhões com a sua história de coragem e resiliência. O jornal Luso esteve presente no evento e foi testemunho das suas palavras.

Nascida no Paquistão em 1997, Malala cresceu e enfrentou desde cedo a repressão talibã, num contexto onde estudar podia custar a vida. O regime ameaçava escolas, alunas e intimidava qualquer família que insistisse em educar as suas filhas. Malala, com 16 anos, recusou ceder. Continuou a ir para a escola com os livros ao peito, mesmo quando os talibãs fizeram explodir o edifício escolar. A sua resposta foi persistir — e por isso tentaram silenciá-la com uma bala na cabeça à queima roupa, a 9 de outubro de 2012, diante dos seus colegas no autocarro, no caminho da escola para casa. Miraculosamente sobreviveu, transformando o que era uma sentença de morte, no início de uma luta global pelo direito à educação feminina. Com 17 anos, em 2014, foi laureada com o prémio Nobel da Paz, pelo seu trabalho pacífico extraordinário na defesa do direito à educação das crianças, especialmente feminino, num contexto de violência extrema e opressão no Paquistão.

Hoje, é autora, ativista pela educação feminina, fundadora da ONG Malala Fund – pretendendo remover barreiras à educação, financiar programas locais e apoiar políticas públicas que garantam que todas as meninas possam ir à escola e aprender com segurança - , cofundadora da Recess Capital - fundo com foco na promoção do desporto feminino - , e a mais jovem vencedora de sempre do Nobel da Paz.

No evento em Bruxelas, Malala apresentou o seu novo livro, revelando a mulher que é hoje por trás da fama: uma jovem que carregou as sequelas físicas e mentais do atentado, uma adolescente que sofreu de isolamento e solidão, mesmo depois de ganhar um Nobel. Confidenciou que os colegas não se aproximavam dela e almoçava sozinha na escola, onde desejava apenas, o que todos desejam, pertencer. Contou como a experiência a levou a Oxford, onde o seu maior objetivo era fazer amigos, e se inscreveu em diversas atividades e clubes para atingir essa meta. Malala contou, com humor e desarmante simplicidade, que sempre usou a roupa tradicional do Paquistão, mas que ao chegar a Oxford sentiu vontade de se reinventar. Com muita humildade confessou que pesquisou até no Google como se vestiam os estudantes europeus e usou jeans pela primeira vez. Com a sua boa disposição, partilhou que se inspirou em Selena Gomez para criar os seus novos looks.

Quando questionada sobre o que é um bom amigo, Malala respondeu com simplicidade e profundidade: “Um bom amigo é alguém que nos oferece conforto, segurança, liberdade e alegria. É alguém que oferece um espaço sem julgamentos, onde podemos partilhar até pensamentos sem nexo, que nos ouvem sempre.”. A mensagem de Malala lembra-nos que a amizade verdadeira não se mede por perfeição ou semelhança, mas pelo respeito, apoio e liberdade que nos permite ser autênticos sem medo de julgamento.

Falou também de amor com uma sinceridade desarmante. Recordou que, aos 10 anos, marcada pelos relatos e conhecimentos de crianças forçadas a casar com homens, decidiu que nunca se casaria, tentando proteger-se das atrocidades tradicionais no seu país de origem. Revelou ainda que, após o atentado, ficou com uma paralisia parcial no rosto e acreditou, durante muito tempo, que nunca seria amada por isso, um reflexo da pressão social sobre a imagem feminina. Apesar de múltiplas cirurgias, Malala continua a viver com sequelas — uma marca física do atentado que quase lhe tirou a vida. No entanto, a vida mostrou-lhe que as suas crenças negativas não tinham fundamento e encontrou o amor. Com ternura no olhar, falou do marido com quem partilha quatro anos de casamento: “Somos muito amigos”, disse, iluminada por um sorriso.

A conversa abordou também a saúde mental. Malala expôs as sequelas invisíveis da tentativa de homicídio — ataques de pânico, Transtorno de Stress Pós-Traumático com flashbacks persistentes do momento do disparo — sentia-se totalmente impotente perante a força avassaladora dos sintomas.
Confidenciou como a terapia, sugerida por um amigo, foi decisiva para lidar com a situação e fomentar o seu bem estar e recuperação. Malala cresceu numa sociedade onde a terapia é desvalorizada e admitiu que ela própria era cética. Contudo, a ciência da psicologia provou-lhe o seu poder transformador: através dela, aprendeu a priorizar o autocuidado e a reconstruir-se por dentro: descanso, alimentação equilibrada, hidratação e desporto, que lhe devolveram força e confiança. “Nem mesmo o medo nos pode impedir de fazer aquilo em que acreditamos”, afirmou. Adiantou ainda que continua em terapia, um apoio essencial para manter equilíbrio emocional.

Entre risos, confessou que a sua atividade preferida seria simplesmente sentar-se e relaxar, mas, por questões de saúde, tornou-se muito ativa fisicamente, praticando diversos desportos. Com bom humor, disse que se até ela, “uma pessoa preguiçosa”, consegue correr e levantar pesos, qualquer pessoa também pode superar os seus limites e cuidar do corpo e da mente.

Quando questionada sobre o governo atual do seu país, o tom entristeceu: “Os talibãs continuam iguais, não acreditam na educação feminina.” Nessa mesma manhã, Malala teve um encontro no Parlamento Europeu (PE) com a Presidente do PE, Roberta Metsola. Apelou à Europa para responsabilizar os talibãs, criminalizando os seus atos, e incentivou todos à ação: a falar sobre o tema, a contactar os seus representantes e a apoiar organizações que lutam pela causa. Recordou que, em países com estas realidades, até ler um livro em segredo é um ato de resistência.

Malala destacou a importância de encontrarmos modelos inspiradores, pessoas que vivam da forma que idealizamos – no casamento, no estilo de vida ou na forma de encarar os desafios – para aprendermos com o lado positivo das suas escolhas. Ela própria é um exemplo vivo de ação: fez amigos, descobriu-se, reinventou-se, experimentou a liberdade, priorizou a sua saúde mental e ajudou inúmeras pessoas ao longo do caminho.

No final, deixou uma mensagem profunda sobre saúde mental e autenticidade: “Se te sentes sozinho, está tudo bem em pedir ajuda. Acredita em ti, sê genuíno contigo próprio, cuida de ti e encontra alegria em cada momento!”

Malala é um exemplo vivo de coragem. Enfrentou ameaças, atentados e injustiças, mas nunca desistiu de lutar pelo direito à educação feminina. A sua vida prova que cada um de nós tem o poder de transformar o mundo e que a coragem, a persistência e a ação concreta podem construir um mundo melhor para todos.


 



 

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