Chega Triunfa no Algarve: Uma Vitória Baseada em Preocupações Regionais e Questões Socioeconômicas



Desde as eleições que ocorreram no passado dia 10 muito se diz e muito se escreve sobre a vitória do chega no Algarve. 

O Algarve, normalmente, vota PS. Este argumento assenta sobretudo nos resultados das eleições autárquicas e das legislativas dos últimos quinze anos. É necessário recuar até 2011 para encontrar um resultado eleitoral em que a direita obteve vitória na região em eleições legislativas, sendo que a esta data a região apenas elegia oito deputados. Em 2015 o PS elege quatro deputados, em 2019 e 2022, o PS elegeu cinco deputados. O PSD elegeu sempre três deputados nestes actos eleitorais. O chega elegeu 1 deputado em 2022 para agora eleger 3 deputados. Sendo que foi o partido com mais votos na região.

Em 2024 os três partidos do pódio elegem o mesmo número de deputados, naquelas que foram as eleições com maior taxa de participação dos últimos anos (a taxa de participação ultrapassa os 60%,com 61,74% dos  inscritos a votar, só em 2009 houve um resultado próximo deste valor, com 57,32%. Se olharmos para os municípios de Portimão e Olhão dois bastiões socialistas onde apenas o PS elegeu Presidentes para as respectivas câmaras municipais desde o 25 de Abril de 1974, verificamos que os partidos do "Arco do Poder" perderam votos para o Chega. As grandes perdas foram para o PS que, por exemplo, passa de 41% em Olhão, em 2022, para 26% em 2024. Esta variação deve ser dissecada de forma minuciosa para percebemos realmente os problemas que afectam os eleitores 

A região é caracterizada por uma economia muito assente no turismo e na especulação imobiliária. Basta ver os preços por metro quadrado da habitação na região nos últimos anos, onde facilmente concluímos que uma casa no Algarve vale quase tanto como uma casa em Lisboa. Este facto, conjugado com a sazonalidade do mercado de trabalho torna quase impossível a compra de casa por parte dos "nativos", os quais têm rendimentos bastante humildes durante o ano.

A campanha do chega assentou nos chavões do costume e a região padece de muitos males devido a esses chavões. O chico-espertismo dos empresários a contratar, o chico-espertismo dos empregados a aceder ao fundo de desemprego, o chico-espertismo daqueles que acedema fundos legais ( seja por eleição em autarquias seja por atribuição de fundos europeus ou outros subsídios do estado),  o chico-espertismo daqueles que acedem a  fundos /matérias privadas. 

Os salários estagnaram ao mesmo tempo que a inflação é considerável. Um casal que receba dois salários médios não consegue pagar um T2.

Acrece que alguns grupos turísticos operam na costa de forma que todos os residentes conhecem. As praias de Lagoa, pequenas, anteriormente tranquilas, actualmente sobre lotadas, são locais de risco para os turistas e muitos dos  residentes recusam frequentar praias da região na época alta. De que serve criar um parque natural marinho, a pouco menos de 5 milhas da costa, quando nessa mesma costa podemos ver canoas a chocar com embarcações a 20 metros da beira -mar? Quando até os banhistas correm o risco de ser atingidos por estas canoas enquanto desfrutam de um banho nas águas algarvias.... O problema não são as canoas, mas sim a falta de controlo sobre a utilização/exploração das mesmas. Talvez até a falta de legislação sobre a matéria.

São factores como os enunciados anteriormente que ajudam a difundir a ideia de que "eles não vão para nós governar, mas sim para se governarem" e que muitos políticos são incompetentes. A estes factores devemos acrescentar os casos, pontuais e pouco relevantes, noticiados de abuso de poder por parte de uma classe política na região e país.

O Algarve tem um salário médio sensivelmente de 1000 € enquanto arrendar um T1 custa +- 1000  € caso o custo de arrendamento seja inferior a esse valor o contracto é feito apenas entre outubro e Abril.

Os eleitores que estão mal, em 2024 e certamente mal irão continuar.

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