Parceiros

(Tempo de leitura: 2 - 3 minutos)


Enquanto Portugal promove nas televisões, rádios e jornais do país uma campanha de incentivo ao voto para os emigrantes no círculo da Europa, milhares de portugueses espalhados por esse mesmo círculo continuam às escuras. E não por falta de meios. Por falta de vontade.

Em França, onde vive a maior comunidade portuguesa fora do território nacional, a campanha pura e simplesmente não chegou aos canais da diáspora. Nem ao LusoJornal, nem à Rádio Alfa, nem ao Luso.eu na Bélgica, nem — pasme-se — à revista O Lusitano de Zurique, que há 31 anos é publicada ininterruptamente, a partir da Suíça, sem um único apoio estatal, dando voz às comunidades, promovendo a cultura, defendendo a língua e criando pontes entre gerações e geografias.

O Lusitano não é um boletim de ocasião. É um projecto de continuidade, resistente, com provas dadas. Não é um instrumento político nem depende de lóbis. E, talvez por isso, é ignorado.

Fala-se muito em “preservar a identidade”, em “reforçar os laços com a diáspora”, mas, na hora de agir, o Estado vira-nos as costas. Aos mesmos de sempre. Aos que não são dóceis, nem domesticáveis, nem fazem vénias por uns tostões de publicidade institucional.

Sim, houve uma proposta — do deputado Paulo Pisco — que obriga o Estado a reservar 10% da publicidade institucional para os meios de comunicação social portugueses no estrangeiro. Foi aprovada. Está em vigor. Mas quem fiscaliza a aplicação? Quem escolhe os beneficiados? Com que critérios? A quem interessa manter tudo isto num nevoeiro de favoritismos?

O que vemos é claro: há exclusão selectiva. Há meios da diáspora que são sistematicamente ignorados, mesmo com décadas de trabalho sério. E há outros que, alegadamente, são contemplados, por serem convenientes. A verdade dói? Pois dói. Mas alguém tem de dizê-la.

A abstenção entre os emigrantes não se combate com slogans bonitos. Combate-se com respeito. Com investimento justo. Com presença onde ela é merecida.

O silêncio do Estado português não é descuido. É uma escolha. Uma escolha que mina a democracia e desvaloriza quem nunca deixou de servir Portugal — mesmo à distância, mesmo no esquecimento. E quando o Estado se cala, outros tomam a palavra. A cavalgada da extrema-direita em alguns sectores da comunidade é uma prova disso: cresce no vazio deixado pela ausência de presença institucional, de informação séria, de investimento nos verdadeiros veículos de ligação.

Aos senhores que distribuem campanhas a régua e esquadro político, deixamos este aviso: nós não desaparecemos. Estamos cá. Continuamos a publicar, a informar, a resistir. Sem apoios, mas com dignidade.

Porque o jornalismo que se faz por convicção não se cala.

Boletim informativo

FOTO DO MÊS

We use cookies
Usamos cookies no nosso site. Alguns deles são essenciais para o funcionamento do site, enquanto outros nos ajudam a melhorar a experiência do utilizador (cookies de rastreamento). Você pode decidir se permite os cookies ou não. Tenha em atenção que, se os rejeitar, poderá não conseguir utilizar todas as funcionalidades do site.