Em 2025, num canto sombrio de Velaris, onde o rio Lejo se mistura com as sombras dos edifícios, uma história de desilusão e sedução começou a tomar forma. Baltazar, um engenheiro mecânico que um dia sonhou em mudar o mundo, viu-se aprisionado num labirinto de contrariedades.
Os sonhos de inovação e progresso transformaram-se em meros fragmentos da sua juventude, os quais ele agora observava com uma melancolia quase palpável. As engrenagens da sua vida, outrora bem oleadas, rangiam com o peso das amarguras que o rodeavam.
Foi num simples café de Velaris, onde Baltazar se refugiava das suas frustrações, que a bela Noelia apareceu. Com um olhar que flamejava como os últimos raios de sol ao entardecer e um sorriso capaz de derreter as barreiras mais rígidas, Noelia rapidamente se tornou a musa enigmática de Baltazar.
Mas ela não era apenas bela; era também uma artista do engano, uma sedutora que, com as suas palavras doces e promessas vazias, o arrastou para um mundo de crime e corrupção.
Noelia sabia, melhor do que ninguém, como um homem desiludido podia ser moldado, e, com subtileza astuta, apresentou Baltazar a um novo propósito: a construção de uma máquina que tornaria o crime mais eficiente, uma verdadeira obra-prima da engenharia do mal.
As suas criações tornaram-se armas, os seus talentos, ferramentas de um jogo perigoso onde os vencedores eram poucos, mas as perdas, inumeráveis.
Enquanto Baltazar se deixava enredar na rede de ambições e ilusões de Noelia, o inspetor Lúcio, um defensor da justiça com uma carreira devastada por escolhas difíceis, tornava-se o seu fantasma.
Com um passado marcado pelo sacrifício da família e dos amigos em nome da lei, Lúcio estava mais determinado do que nunca a desgastar as engrenagens da máquina do crime que Baltazar ajudava a construir. A sua presença era uma sombra constante, uma voz que ecoava nas paredes da mente atormentada do engenheiro. O conflito entre a moral e a ambição, entre a sedução e a determinação de Lúcio, desenhava-se como um drama trágico.
Cada vez que Baltazar seguia uma nova diretriz de Noelia, sentia o peso da culpa a pressionar os seus ombros, como se cada engenho criado fosse uma corrente a prendê-lo ainda mais ao abismo que havia escolhido. Lúcio, por seu lado, persistia na sua busca, algumas vezes à custa da sua própria sanidade, colocando-se em situações perigosas apenas para desmantelar os planos de Baltazar. No entanto, a linha entre crime e redenção é por vezes mais ténue do que parece.
A beleza de Noelia não estava apenas na sua aparência; era também na sua astúcia, na capacidade de manipular corações e mentes à sua volta.
O desafio para Baltazar tornou-se a luta interna entre a lealdade à sua alma e a atração irresistível que sentia por ela. A máquina do crime continuava a operar, mas cada clique da sua criação ecoava como um lembrete da vida que ele realmente desejava. Em cada confronto entre Lúcio e Baltazar, a cidade e as suas almas tornaram-se o tabuleiro de um jogo imprevisível, onde todas as peças eram indispensáveis e a vitória de uns significava a derrota de outros.
O inspetor lutava para restaurar a justiça que Baltazar havia abandonado, mesmo que isso significasse enfrentar um homem que, em tempos, fora um amigo. Velaris, a eterna cidade dos contrastes, assistia impotente a este desenrolar trágico.
Baltazar, Noelia e Lúcio não eram apenas personagens; eram símbolos de uma luta que todos podemos sentir: a busca pelo propósito, os perigos da desilusão e a luta constante entre o bem e o mal.
A máquina do crime girava, mas questionava-se: até que ponto cada um desses seres humanos conseguiria manter-se fiel a si mesmo, ou se, um dia, acabariam todos a perder-se nas sombras da cidade que nunca dorme.