O aumento da esperança média de vida continua a ditar o ritmo do sistema previdenciário português. Em 2027, os trabalhadores terão de esperar mais dois meses do que em 2026 para aceder à pensão completa.
Lisboa – É oficial: o acesso à pensão de velhice em Portugal vai voltar a registar um agravamento. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) e a regulamentação já publicada pelo Governo, a idade normal de acesso à reforma fixar-se-á nos 66 anos e 11 meses em 2027.
Este incremento de dois meses face ao calendário de 2026 (66 anos e 9 meses) reflete a aplicação direta da fórmula legal que liga a idade da reforma à evolução da esperança média de vida aos 65 anos. O fenómeno, embora sinal de progresso na saúde pública, coloca desafios crescentes à sustentabilidade da Segurança Social e ao planeamento de vida dos cidadãos.
O "Fator de Sustentabilidade" e o custo da antecipação
Para aqueles que não podem ou não pretendem aguardar pelo limite dos 67 anos, o cenário em 2027 apresenta-se mais rigoroso. O fator de sustentabilidade — o mecanismo que penaliza o valor das pensões para quem se reforma antecipadamente — situar-se-á nos 17,6%.
Este corte soma-se à penalização mensal de 0,5% por cada mês de antecipação em relação à idade legal. Na prática, um trabalhador que opte pela reforma antecipada em 2027 enfrentará uma redução substancial e vitalícia no valor do seu benefício, a menos que esteja abrangido por regimes especiais ou carreiras muito longas.
As exceções: Carreiras longas e a "Idade Pessoal"
Nem todos os trabalhadores serão obrigados a atingir os 66 anos e 11 meses. O sistema prevê a "idade pessoal de reforma", que beneficia quem tem carreiras contributivas extensas.
Aos 60 anos: É possível pedir a reforma antecipada sem cortes do fator de sustentabilidade se o beneficiário tiver pelo menos 48 anos de descontos ou 46 anos de descontos com início de carreira antes dos 17 anos (as chamadas carreiras muito longas).
Redução por tempo de serviço: Para quem tem mais de 40 anos de descontos aos 65 anos, a idade legal de reforma pode ser reduzida em quatro meses por cada ano que exceda essas quatro décadas de contribuições.
Um sistema sob pressão
Especialistas em demografia e economia alertam que a tendência de subida é irreversível no modelo atual. Se o crescimento da longevidade mantiver o ritmo atual, a barreira dos 67 anos de idade para a reforma deverá ser ultrapassada já em 2028 ou 2029.
Para os cidadãos, o conselho das autoridades e consultores financeiros é unânime: o planeamento deve ser feito com antecedência. A consulta do simulador de pensões na Segurança Social Direta torna-se uma ferramenta essencial para calcular o impacto real destes meses adicionais no orçamento familiar.
Enquanto a idade avança, o debate sobre a flexibilização da idade da reforma e o envelhecimento ativo promete manter-se no centro da agenda política nacional nos próximos anos.
