No Parlamento Europeu, cuidadores e testemunhos foram ouvidos: famílias que sustentam filhos com deficiência exigem direitos e reconhecimento.
No dia 3 de novembro de 2025, o Parlamento Europeu em Bruxelas acolheu o evento “O valor de cuidar: reconhecer aqueles que sustentam os outros”, organizado pela eurodeputada espanhola Margarita de la Pisa. O encontro destacou a importância das famílias que cuidam de crianças com deficiência ou doenças graves e deu voz a experiências humanas que raramente chegam à esfera política.
Margarita de la Pisa, farmacêutica e mãe de nove filhos, é um exemplo vivo de como o cuidado pode ser uma força política. Desde 2020, que se destaca por defender a dignidade humana, a vida e a família como célula fundamental da sociedade, sublinhando que mães de famílias numerosas devem estar representadas no Parlamento para que os direitos das mulheres sejam tidos em conta e verdadeiramente compreendidos.
O evento contou com testemunhos inspiradores, como o do eurodeputado húngaro Pál Szekeres, tetraplégico, que recordou: “A família é a parte mais importante da sociedade. Quando perdi quase tudo, os meus pais deram-me tudo o que tinham — amor e apoio. Foi isso que me permitiu recomeçar depois do meu grave acidente.” Também estiveram presentes Elena Losana e Diego Solier, fundadores do projeto #CuidadorLazarillo, que apresentaram uma petição formal ao Parlamento Europeu exigindo regulamentação clara para que crianças com doenças graves possam ser acompanhadas pelos cuidadores em escolas e espaços comunitários. Sublinharam que não se pode excluir uma criança por precisar de cuidados e que há que garantir o seu direito a estar, a participar e a viver plenamente.
Atualmente, o direito ao acompanhamento depende do critério de cada instituição, gerando exclusão e desigualdade. Pais relataram que, em muitas escolas, não podem administrar medicação aos filhos durante atividades escolares, chegando ao ponto de crianças terem de sair da escola ou tomar medicamentos através das grades. A proposta apresentada pede que este acompanhamento seja reconhecido como um “ajuste razoável obrigatório”, sem custos adicionais, tal como acontece com pessoas com cães-guia.
Os discursos reforçaram o papel insubstituível da família como pilar da sociedade. P. Boccanera, pai de duas crianças adotadas com deficiência profunda, descreveu as dificuldades diárias, desde a obtenção de um simples cartão de estacionamento até à manutenção de condições médicas rigorosas em casa, e apelou à urgência de reformar sistemas de apoio uniformes e rápidos, criticando a lentidão em Espanha, onde mais de 300 mil pessoas aguardam reconhecimento oficial da deficiência.
Entre lágrimas, sorrisos e aplausos, o evento deixou uma mensagem clara: cuidar é um ato de amor, mas também uma questão de justiça social. Reconhecer e proteger o papel do cuidador é uma obrigação e urgência política.


