Bruxelas – 22 de maio de 2025 - A Bélgica deu um passo decisivo no sentido de reverter a sua política energética ao aprovar, a 15 de maio, a revogação da lei que previa o abandono progressivo da energia nuclear. Esta decisão, tomada num contexto europeu favorável à energia atómica, poderá abrir caminho à construção de novas centrais nucleares no país.
A revogação marca uma mudança significativa face à posição adotada em 2003, quando a Bélgica definiu o encerramento dos seus sete reatores nucleares até 2025. O atual Governo justifica o recuo com a necessidade de garantir uma fonte energética abundante, com baixo teor de carbono e a preços controlados.
“Temos três objetivos partilhados com os nossos parceiros europeus: segurança no aprovisionamento, preços acessíveis e energia limpa. A energia nuclear cumpre estes três critérios”, afirmou Mathieu Bihet, ministro da Energia belga.
A aposta belga não é isolada. Vários Estados-membros da União Europeia têm revisto as suas estratégias energéticas à luz da instabilidade geopolítica e da dependência do gás. Atualmente, 12 países da UE operam cerca de uma centena de reatores nucleares, incluindo França, Finlândia, Espanha e Suécia.
Mesmo países que encerraram centrais nucleares, como a Alemanha, começam a reavaliar as suas posições. O chanceler Friedrich Merz colocou o tema na agenda política, embora tenha admitido que o regresso ao nuclear é improvável devido à divisão interna da coligação que lidera.
Para Adel El Gammal, professor na Universidade Livre de Bruxelas e secretário-geral da Aliança Europeia de Investigação Energética, existem duas vias: prolongar a vida das centrais atuais ou relançar a construção de novos reatores, sendo esta última uma opção complexa e onerosa.
“Elas não são mutuamente exclusivas. As renováveis entram em funcionamento mais rapidamente, mas o nuclear oferece estabilidade. São estratégias complementares”, defende o especialista.
O Governo belga defende uma abordagem colaborativa a nível europeu, com projetos comuns e investimentos multi-estatais que ajudem a reduzir os custos e reforcem a confiança do setor.
A decisão da Bélgica sinaliza uma nova era na política energética europeia, onde o nuclear volta a ganhar espaço como peça estratégica na transição energética e na segurança do aprovisionamento.