No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, os profissionais da comunicação enfrentam novas ameaças num ambiente mediático cada vez mais vulnerável à desinformação.
A 3 de maio, assinala-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, instituído pelas Nações Unidas para destacar a importância do jornalismo livre, plural e independente. Este ano, a data surge num momento crítico para os media em todo o mundo, onde a difusão de desinformação e o crescimento das chamadas "fake news" colocam novos obstáculos ao direito dos cidadãos a uma informação rigorosa e credível.
Segundo o relatório anual da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o número de países onde o jornalismo é considerado livre continua a diminuir. Em paralelo, cresce o número de jornalistas ameaçados, perseguidos ou detidos pelo exercício da sua profissão, com destaque para contextos de conflito, regimes autoritários ou democracias em erosão institucional.
Desinformação e redes sociais
A expansão das redes sociais transformou profundamente o ecossistema informativo. Plataformas como Facebook, X (ex-Twitter), TikTok e YouTube tornaram-se canais dominantes para o consumo de notícias, sobretudo entre os mais jovens. No entanto, a facilidade de publicação e partilha de conteúdos não verificados tem contribuído para a propagação massiva de rumores, manipulações e teorias da conspiração.
Estudos académicos indicam que as fake news circulam mais depressa do que as notícias verdadeiras, especialmente quando despertam emoções fortes. Esta realidade coloca uma pressão acrescida sobre os órgãos de comunicação social tradicionais, que enfrentam não só uma crise económica e de modelo de negócio, mas também a concorrência de conteúdos virais, muitas vezes sem qualquer base factual.
Portugal e os desafios da veracidade
Em Portugal, embora a liberdade de imprensa esteja constitucionalmente protegida e seja, em geral, respeitada, os jornalistas enfrentam dificuldades crescentes. A concentração da propriedade dos media, a precariedade laboral nas redações e os condicionalismos financeiros afetam a autonomia editorial e a profundidade do trabalho jornalístico.
Ao mesmo tempo, fenómenos de desinformação têm vindo a aumentar, particularmente em períodos eleitorais ou em temas sensíveis como saúde pública, migrações e segurança. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e várias organizações independentes têm promovido ações de literacia mediática, mas os desafios persistem.
Papel do jornalismo e responsabilidade coletiva
Especialistas sublinham que a defesa da liberdade de imprensa exige não apenas a proteção dos jornalistas, mas também o reforço de mecanismos de verificação de factos, a transparência nas fontes e uma cidadania crítica e informada.
A luta contra as fake news não passa por censura, mas por mais e melhor jornalismo: baseado em evidência, rigor, responsabilidade e pluralismo. Em tempos de incerteza e polarização, a imprensa continua a ser um pilar fundamental da democracia e um antídoto contra a manipulação da opinião pública.