O médico português Luís Moreira Gonçalves conta, na banda desenhada Dormindo entre cadáveres, a sua experiência intensa na linha da frente da covid-19 no Brasil, revelando decisões difíceis, escassez de recursos e momentos chocantes.
O médico português Luís Moreira Gonçalves revela a sua experiência intensa no combate à covid-19 no Brasil através da banda desenhada “Dormindo entre cadáveres”, lançada este ano pela editora Zigurate. O seu livro mistura ficção e realidade, com ilustrações do brasileiro Felipe Parucci, e relata o dia a dia do seu trabalho em plena pandemia, marcado tanto por escassez de profissionais como de material médico. Neste período difícil, foram realizados procedimentos críticos e tomadas dolorosas decisões sobre a que pacientes aplicar os escassos recursos, decisões que, afinal, podiam determinar a vida ou a morte dos mesmos.
Luís Moreira Gonçalves, que vivia no Brasil desde 2017 como investigador na Universidade de São Paulo, foi chamado pelo governo local devido à escassez aguda e extrema de profissionais de saúde. Sem experiência clínica prática na altura, descreve-se como uma “testemunha quase acidental” num dos momentos mais difíceis da saúde brasileira.
Em 2021, Luís trabalhou num hospital na Rondônia, no coração da Amazónia, onde enfrentou a emergência sanitária mais grave do país, sendo que o Brasil foi o 3º país mundial com mais mortes por este vírus. O autor confessa ter atravessado momentos profundamente angustiantes e chocantes e que escrever este livro teve um efeito terapêutico: “Saí de lá com stress pós-traumático, e relatar tudo ajudou-me a lidar com o que vivi”. Ao longo de mais de 300 páginas, partilha desde os primeiros procedimentos médicos até às mensagens de despedida de pacientes, oferecendo um olhar humano e intenso sobre a pandemia.
O livro, que chegou há uns meses a Portugal, não é um diário de guerra nem um relato jornalístico, mas inspira-se em histórias reais. Um livro que expõe aquilo que foi a realidade do terreno para muitos profissionais de saúde e que leva os leitores a refletir sobre o real impacto da pandemia, as razões por detrás das estritas medidas de prevenção, a fragilidade dos sistemas de saúde e a necessidade de aprender com o passado.



