Em Bondi Beach, a praia mais famosa da Austrália, doze pessoas foram assassinadas a tiro durante uma celebração judaica, a festa das luzes, o Hanukkah.
Tudo indica um acto de ódio calculado e com uma mensagem: “vocês não pertencem aqui”. Noutro lado do mundo, desde o final de 2023 até agora, pelo menos 1 017 palestinianos foram mortos por forças israelitas ou por colonos na Cisjordânia e Jerusalém Oriental - dados das Nações Unidas. Entre os mortos, 221 crianças.
A mensagem é em tudo idêntica: “vocês não pertencem aqui”.Exemplos outros proliferam, e em todos os continentes. Mas… nada disto é novo. No final do século XIX, em França, por exemplo, dezenas de italianos foram mortos, acusados de roubar trabalho e “estragar” a pátria. Durante décadas, os judeus foram vistos como corpo estranho - recorde-se o caso Dreifuss. Depois foram os árabes, os africanos, os romenos - até os portugueses.
O “outro” vai mudando de rosto, mas permanece útil a uma sociedade que, em tempos de crise, precisa de alguém a quem culpar. E é tão fácil!A grande tragédia é a capacidade do racismo - nas suas diversas formas de se manifestar (da palavra ao tiro) - de ir conseguindo transformar-se. E sobreviver. Quando a ciência descredibilizou a ideia de raças biológicas, o preconceito encontrou novo disfarce: o das “culturas incompatíveis”, das “identidades ameaçadas”, das “invasões”. Hoje fala-se de “defender o sangue” ou da “substituição” de um povo. A linguagem é moderna, mas o medo é… medieval.
A História já nos mostrou para onde leva o racismo quando se normaliza: à exclusão, à segregação e ao genocídio.Não há neutralidade possível. Tolerar o racismo, em qualquer das suas formas — explícitas ou subtis, institucionais ou populares — é aceitar a barbárie.O racismo não é uma opinião. É um atentado à dignidade humana. No século XXI, deveria ser absolutamente inaceitável. Infelizmente não é.


