Enquanto Portugal promove nas televisões, rádios e jornais do país uma campanha de incentivo ao voto para os emigrantes no círculo da Europa, milhares de portugueses espalhados por esse mesmo círculo continuam às escuras. E não por falta de meios. Por falta de vontade.
Em França, onde vive a maior comunidade portuguesa fora do território nacional, a campanha pura e simplesmente não chegou aos canais da diáspora. Nem ao LusoJornal, nem à Rádio Alfa, nem ao Luso.eu na Bélgica, nem — pasme-se — à revista O Lusitano de Zurique, que há 31 anos é publicada ininterruptamente, a partir da Suíça, sem um único apoio estatal, dando voz às comunidades, promovendo a cultura, defendendo a língua e criando pontes entre gerações e geografias.
O Lusitano não é um boletim de ocasião. É um projecto de continuidade, resistente, com provas dadas. Não é um instrumento político nem depende de lóbis. E, talvez por isso, é ignorado.
Fala-se muito em “preservar a identidade”, em “reforçar os laços com a diáspora”, mas, na hora de agir, o Estado vira-nos as costas. Aos mesmos de sempre. Aos que não são dóceis, nem domesticáveis, nem fazem vénias por uns tostões de publicidade institucional.
Sim, houve uma proposta — do deputado Paulo Pisco — que obriga o Estado a reservar 10% da publicidade institucional para os meios de comunicação social portugueses no estrangeiro. Foi aprovada. Está em vigor. Mas quem fiscaliza a aplicação? Quem escolhe os beneficiados? Com que critérios? A quem interessa manter tudo isto num nevoeiro de favoritismos?
O que vemos é claro: há exclusão selectiva. Há meios da diáspora que são sistematicamente ignorados, mesmo com décadas de trabalho sério. E há outros que, alegadamente, são contemplados, por serem convenientes. A verdade dói? Pois dói. Mas alguém tem de dizê-la.
A abstenção entre os emigrantes não se combate com slogans bonitos. Combate-se com respeito. Com investimento justo. Com presença onde ela é merecida.
O silêncio do Estado português não é descuido. É uma escolha. Uma escolha que mina a democracia e desvaloriza quem nunca deixou de servir Portugal — mesmo à distância, mesmo no esquecimento. E quando o Estado se cala, outros tomam a palavra. A cavalgada da extrema-direita em alguns sectores da comunidade é uma prova disso: cresce no vazio deixado pela ausência de presença institucional, de informação séria, de investimento nos verdadeiros veículos de ligação.
Aos senhores que distribuem campanhas a régua e esquadro político, deixamos este aviso: nós não desaparecemos. Estamos cá. Continuamos a publicar, a informar, a resistir. Sem apoios, mas com dignidade.
Porque o jornalismo que se faz por convicção não se cala.