José Manuel Fernandes apresentou-se nas últimas eleições legislativas como a grande esperança dos portugueses emigrados. Falou alto e claro: "comigo vai ser diferente", "esta injustiça vai acabar", "vou cumprir".
Referia-se à forma como o Estado trata os reformados portugueses vindos da Suíça, à ausência de políticas consistentes para a Diáspora, à necessidade de fazer política com os emigrantes, e não apenas sobre eles.
Prometeu dedicar-se inteiramente à causa das comunidades portuguesas no estrangeiro, caso fosse eleito. A sua campanha, centrada nas injustiças vividas por quem está longe de Portugal, mobilizou muitos eleitores no estrangeiro. "Os nossos emigrantes merecem mais. Merecem que o Estado português os trate com a mesma dignidade com que eles tratam a nossa bandeira. É isso que me comprometo a fazer. Com eles. Por eles", declarou, numa das suas intervenções mais marcantes.
As palavras foram certeiras, sentidas, e geraram expectativas legítimas. "Nunca fui homem de promessas vazias. Quem me conhece sabe: quando dou a minha palavra, cumpro", garantiu, olhando directamente para as câmaras, numa postura que transmitia determinação e confiança.
Mas quando chegou a hora de cumprir, optou por voltar à Agricultura — reassumindo a pasta ministerial que já ocupara. As comunidades ficaram para trás. A justiça prometida foi adiada — ou esquecida.
A reacção não se fez esperar. "Cavalo de Tróia", "gato por lebre", são algumas das expressões ouvidas entre os emigrantes que se sentiram usados e ofendidos. Votaram num homem que dizia conhecê-los, compreendê-los, querer estar com eles. E viram-no, assim que o poder chamou, escolher outro caminho.
A promessa de "cumprir" ficou por cumprir. Em vez de se dedicar às comunidades como prometera, JMF optou por regressar à pasta da Agricultura que já conhecia bem.
José Manuel Fernandes teve a oportunidade de fazer diferente. E escolheu fazer igual. A confiança dos emigrantes foi traída. A resposta agora está nas mãos da imprensa livre — e do tempo.
Manuel Araújo