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Era uma manhã de outono quando um grupo de colegas decidiu que era tempo de fazer uma visita de trabalho a Lisboa. O autocarro, emblema de tantas viagens e histórias, aguardava-os no estacionamento.

Entre sorrisos e provocações, seguiam juntos por sangue e suor, prontos para enfrentar as curvas da estrada e os desafios que os esperava. Numa das filas, havia duas personagens peculiares que se destacavam do resto do grupo: o Ponto e a Vírgula.

O Ponto, um homem de estatura baixa, de óculos redondos de armação preta sempre centrado e pragmático, ocupou o lugar encostado à janela. Lá fora, as árvores passavam a correr como pensamentos que se esvaem. Ele olhava para a paisagem, resignado, como se entendesse que havia razões para tudo. Nas suas mãos, segurava um livro não lido. Ao seu lado, a Vírgula, uma mulher alta, de cabelo claro e botas de tropa, esticava as pernas à vontade em direção ao corredor. Para ela, cada oportunidade era um convite à aventura. E naquele autocarro, era a liberdade de se mover que a fascinava.

“Posso passar?” perguntou a Vírgula, avançando com desenvoltura até ao seu espaço preferido. O Ponto sorriu, já habituado ao seu jeito destemido. “É claro, não há nada como esticar as pernas numa viagem de autocarro”, respondeu, olhando pela janela. A sua resignação contrabalançava o entusiasmo dela, como se ambos dançassem em harmonia dentro daquele espaço confinado.

Entre as conversas e sorrisos que ecoavam pelo veículo, a amizade entre o Ponto e a Vírgula revelava-se mais profunda do que muitos conseguiam perceber. Passavam horas a discutir livros, filmes e a vida, mas havia sempre um vínculo maior que os unia: o amor pelos animais. A Vírgula partilhava a sua casa com um cão que corria atrás das sombras e dois gatos que ocupavam os melhores lugares do sofá, qualidades que só podiam ser invejadas. O Ponto, por sua vez, tinha um cão preto e branco que o seguia em todas as aventuras e duas gatas que, com o seu olhar de desdém, lhe lembravam que, por vezes, a vida é feita de pequenas distâncias e grandes conquistas.

Como dois elementos de uma frase, o Ponto e a Vírgula encontraram o seu equilíbrio. Entre reticências e exclamações, aprenderam a arte da pausa e da ligação, a beleza de se completarem um ao outro na amizade. O gosto pela vida e pelas novas experiências era um traço comum. Com um simples olhar, podiam comunicar todo um universo de ideias, desafios e sonhos.

Na viagem rumo a Lisboa, a cada paragem, o Ponto e a Vírgula partilhavam reflexões, casos surreais da vida e a certeza de que, no seu singular modo, se tornavam melhores a cada quilómetro percorrido. Havia na sua amizade um toque de magia, como se o tempo se solidificasse entre pernas esticadas e olhares ao horizonte. Afinal, tanto o Ponto como a Vírgula sabiam que, na dança dos desafios, cada passo contava e cada pausa era uma nova oportunidade de sonhar.

E assim, naquele autocarro rumo a uma nova aventura laboral, perceberam que, independentemente da altura, do peso das palavras ou das distâncias a percorrer, os laços que construímos são sempre mais altos e mais robustos do que qualquer condição que nos possa dividir. Uma amizade que começa com um ponto e uma vírgula, mas que, claro, não se limita a isso.


 


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