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Paulo Garrido é uma figura emblemática da comunidade portuguesa em Vancouver, reconhecido pela sua paixão pela cultura e pela língua portuguesa, bem como pelo seu trabalho na rádio.

Nascido e criado em Lisboa, Paulo tomou a ousada decisão de emigrar para o Canadá em 1985, motivado por razões pessoais que moldaram não só a sua vida profissional, mas também a sua experiência enquanto pai de três filhos.

Ao longo dos anos, Paulo tem-se empenhado em manter viva a ligação à sua terra natal, promovendo a cultura e as tradições portuguesas através dos seus programas de rádio. Neste contexto, a nossa conversa explora as suas memórias, as experiências marcantes na rádio, a sua visão sobre a integração das comunidades e a importância de transmitir as suas raízes às novas gerações.

Nesta entrevista, Paulo Garrido partilha a sua trajetória de vida, os desafios e as alegrias que encontrou na sua jornada, além de nos oferecer uma perspectiva única sobre a experiência dos emigrantes portugueses no Canadá. Acompanhe-nos nesta conversa inspiradora com um dos mais apreciados representantes da nossa comunidade.

1. Olá, Paulo Garrido! Para começarmos, poderias contar-nos um pouco sobre a tua decisão de emigrar para o Canadá em 1985? O que te levou a tomar esse passo?

PG: Conheci a minha ex-mulher em Lisboa, ela nasceu no Canadá, mas é filha de pais portugueses. Vim casar-me no Canadá e decidi ficar por aqui.

2. Com 62 anos e três filhos, como é que a vida no Canadá moldou não apenas a tua carreira, mas também a tua experiência como pai?

PG: Apesar de gostar muito de Portugal, adoro o Canadá, que se adapta à minha maneira de viver. É um país muito pacífico e educado, onde não existe muito crime. Comecei a trabalhar para o Governo do Canadá numa rede de hospitais em 1989 e estou aqui até hoje. Já poderia estar reformado, mas gosto do que faço. Não sei quando me vou reformar, mas penso que só o farei se tiver algum problema de saúde. Sempre pensei que, como pai, os meus filhos teriam uma vida melhor aqui do que em Portugal. Tive inúmeras oportunidades para me mudar para Portugal, mas sempre acreditei que seria melhor para eles aqui. Não há nada no mundo melhor do que ter uma família unida.

3. É notável o teu amor pela cultura portuguesa. De que forma manténs essa ligação viva ao longo dos anos, especialmente vivendo tão longe de Portugal?

PG: O amor pela cultura portuguesa esteve sempre presente na minha vida, muito devido aos programas de rádio que fiz e faço. Apesar de estar aqui há tantos anos, muito mais do que vivi em Portugal, continuo a ser mais português do que canadiano na maneira de pensar, de vestir, de reagir... tenho toda a minha família em Portugal; sou o único aqui e adoro ir a Portugal. Procuro sempre ir durante três meses por ano.

4. Começaste a fazer rádio pirata em Portugal nos anos 80. O que te cativou neste meio e como foi a transição para a rádio no Canadá?

PG: Sempre tive uma paixão pelo rádio desde criança. Lembro-me de ser muito jovem e gravar programas com música e eu a falar. Depois tive a hipótese de fazer rádio pirata e fiquei ainda mais entusiasmado. Emigrei para o Canadá e, mal cheguei, tinha o desejo de fazer rádio. Primeiro, comecei a fazer rádio com um senhor que foi um dos pioneiros da rádio aqui na Colúmbia Britânica, Toni Lima. O outro pioneiro foi Álvaro Mendes, com quem comecei a trabalhar há muitos anos e juntos criámos a RADIOBC em AM e FM.

5. Poderias partilhar alguma experiência marcante que tenhas tido ao longo da tua carreira na rádio, como a apresentação do espetáculo da Mariza?

PG: Sim, tive o prazer de estar envolvido em muitos espetáculos, fazendo muitas entrevistas. O maior prazer era dar um pouco de conforto a muitos portugueses mais velhos, que só tinham a possibilidade de ouvir em português através da nossa rádio. Tive o prazer de apresentar espetáculos com Mariza, Carminho, Ana Moura, entre outros. Tive oportunidade de entrevistar muita gente, desde Presidentes da República e pessoal ligado ao Governo Português, como também Primeiros-Ministros canadianos e outros membros do governo.

6. Depois de teres vivido em Toronto e agora em Vancouver, que diferenças notáveis encontraste entre as duas cidades e como isso influenciou o teu trabalho na rádio?

PG: Eu vivi pouco tempo em Toronto, mas, sinceramente, durante esse pouco tempo estava desejoso de me ir embora... (risos). Principalmente por causa do tempo: muito frio, muita neve e, no verão, muito húmido. Já em Vancouver (eu vivo em Victoria, que é perto; Victoria é a capital desta província), o tempo aqui é muito parecido com o português. Raramente cai neve, os verões são secos e o inverno é ameno. Acho o clima muito parecido ao da cidade do Porto.

7. Fala-nos um pouco sobre o teu trabalho com o Governo Canadiano e como isso se relaciona com os programas de rádio que apresentas para a comunidade.

PG: O meu trabalho não tem relação com o meu programa de rádio. O rádio é simplesmente uma fuga e também uma alegria em estar reunido com a nossa cultura, o nosso povo, o que me dá um prazer enorme.

8. Sabemos que a rádio é um meio de comunicação fascinante. Quais são as histórias mais interessantes que acumulaste ao longo da tua carreira na rádio?

PG: Apesar de ter várias histórias fascinantes, a melhor e a que me deu mais prazer foi um dia em que fui convidado por uma estação de televisão para os ajudar a fazer um programa sobre Joe Silvey. E quem é este senhor? Joe Silvey foi, talvez, segundo dizem, o primeiro português a vir para este lado do Canadá à procura de ouro. Não encontrou fortuna no ouro, mas encontrou uma esposa nativa da região, que mais tarde ficaria conhecida por Vancouver. Silva casou, então, com Khaltinaht, neta do lendário chefe índio Kiapilano. Após o matrimónio, o casal partiu de canoa rumo a Point Roberts, onde José Silva abriu um bar (saloon) e se dedicou à pesca. Viveu em Brockton Point, o atual Stanley Park, local onde acabaria por encontrar outros companheiros de língua portuguesa, entre eles o baleeiro Peter Smith, Joe Gonçalves e o primeiro polícia de Vancouver, Tomkins Brew. Todos eles, com exceção de Gonçalves, que permaneceu solteiro, casaram com mulheres aborígenes. Algum tempo depois, Silva ficou viúvo e pai de duas crianças. Casou, mais tarde, com outra mulher indígena – Kwahama kwatlematt (Lucy-Lucia) – e juntos criaram 11 filhos na ilha Reid. Quando fui acompanhado desta estação de televisão à reserva (a reserva é onde vivem muitos nativos, com muitas casas ao redor numa vasta extensão de terreno; só entra ali alguém com autorização), fiquei espantado ao ver que à entrada estavam a bandeira da tribo e, do outro lado, a nossa bandeira de Portugal. Foi lindo de se ver. Receberam-nos como se fôssemos família, queriam nos dar tudo: comida, artesanato e outras coisas. Vim depois a saber que as centenas de pessoas que vivem ali são de origem portuguesa por causa deste senhor português chamado João Silva, penso eu, mas depois tratado como Joe Silvey.

9. Como tem sido a parceria com o teu colega Álvaro Mendes em Vancouver e que tipo de programas têm desenvolvido juntos?

PG: Não poderia desejar melhor do que estar envolvido com este grande pioneiro da rádio em Vancouver. Tem sido um grande prazer fazer rádio; ele em AM e eu em FM, com muita música, entrevistas e notícias comunitárias.

10. Preparas-te para continuar a tua trajetória na rádio? Quais são os teus planos futuros, tanto a nível profissional como pessoal?

PG: Agora que estou mais velho, já não estou tão ligado à rádio como antes. Ainda faço programas, mas não tantos como há anos atrás. Também, hoje em dia, devido à internet, as pessoas podem ouvir programas diretamente de Portugal. Agora estou mais focado e até montei um estúdio na minha casa para fazer podcasts. Penso que o futuro está aqui. Neste momento, o que mais gosto de fazer é viajar; adoro conhecer novas culturas.

11. Para finalizar, que mensagem gostarias de deixar à comunidade portuguesa que te ouve e acompanha?

PG: Gostaria de deixar a mensagem para nunca se esquecerem das suas origens, para terem orgulho na sua cultura, que procurem falar o português com os seus filhos e netos. Eles um dia irão agradecer. Deixem a chama acesa, e não estou a falar só para esta comunidade, mas sim para todas as comunidades espalhadas por este mundo. Um grande abraço e, se querem saber um pouco mais sobre esta comunidade, por favor visitem www.radiobc.ca. Um grande abraço daqui para todos os portugueses espalhados pelo mundo. Paulo Garrido.

A conversa com Paulo Garrido trouxe à luz não apenas a sua rica história pessoal e profissional, mas também o impacto significativo que um indivíduo pode ter na preservação e promoção da cultura portuguesa no estrangeiro. A sua paixão pela rádio e pela comunidade é evidente nas suas palavras, refletindo um compromisso inabalável em manter vivas as tradições e a língua portuguesa entre as novas gerações.

Paulo não é apenas um locutor; é um verdadeiro embaixador da cultura portuguesa em Vancouver. Através do seu trabalho, ele conseguiu criar um espaço onde a comunidade pode ouvir, aprender e celebrar a sua herança cultural, mesmo a milhares de quilómetros de distância de casa. A sua mensagem ecoa fortemente: a importância de lembrar as raízes, de partilhar a cultura com os filhos e netos e de manter acesa a chama da identidade portuguesa.

Com um futuro cheio de projetos, incluindo a produção de podcasts e uma vontade constante de explorar novas culturas, Paulo Garrido continua a inspirar todos à sua volta. Apreciamos a sua disponibilidade para partilhar a sua história e as suas experiências, e desejamos-lhe muito sucesso nas suas futuras iniciativas. A sua voz será sempre uma presença acolhedora para a comunidade portuguesa em Vancouver e um farol de esperança para os que anseiam por ligação com as suas origens.

Um grande abraço a Paulo Garrido, cuja trajetória é um testemunho do poder da comunidade e da cultura e que continua a deixar uma marca indelével na vida dos portugueses que o ouvem.

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