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Le bidonville de Champigny-sur-Marne, 1963. Paul Almasy – Musée national de l’histoire et des cultures de l’immigration.


Nas décadas de 1960 e 1970, milhares de portugueses atravessaram clandestinamente a fronteira francesa em busca de um futuro mais digno. Fugiam da pobreza, da ditadura e da guerra colonial.

Muitos tinham apenas uma mala de cartão, os bolsos vazios e uma esperança frágil. Chegaram a França e encontraram não o paraíso prometido, mas os bidonvilles: bairros improvisados de barracas de zinco e madeira, sem água, eletricidade ou saneamento.

Champigny-sur-Marne tornou-se o símbolo desse exílio. Entre 1956 e 1973, mais de 15 mil portugueses ali viveram em condições precárias. Trabalhavam duro, sofriam o desprezo das autoridades e eram marginalizados como “estrangeiros a mais”. Mas resistiram. Criaram redes de apoio, contaram com padres operários e associações locais. Lutaram por melhores condições. Aos poucos, conseguiram sair dos barracos e realojar-se em habitações sociais. A segunda geração estudou, prosperou e integrou-se plenamente na sociedade francesa.

No entanto, hoje, muitos destes descendentes de emigrantes votam em partidos de extrema-direita. Apoiam discursos que demonizam novos imigrantes — africanos, muçulmanos, refugiados — esquecendo que um dia seus próprios pais e avós foram “os outros”. É um paradoxo doloroso: vítimas de ontem tornam-se cúmplices da exclusão de hoje.

“O céu é como ausente”, descreveu o fotógrafo Gérald Bloncourt ao retratar a vida nos bidonvilles. Agora, ausente parece ser também o passado na consciência de alguns luso-descendentes. A memória curta alimenta o medo. E o medo, mal orientado, transforma vítimas em algozes.

“A história não serve para ser esquecida, mas para nos lembrar quem fomos — e quem não devemos ser”, alerta o historiador Yves Léonard. Ignorar esse passado é abrir espaço para a repetição dos mesmos erros, com os papéis trocados. A empatia morre onde a memória falha.

Resgatar a história dos portugueses nos bidonvilles de França é mais do que um exercício de nostalgia. É um alerta. Recordar é resistir. É reconhecer que a dignidade conquistada a duras penas deve ser defendida não só para si, mas também para os outros.

Que este passado não seja silenciado. Que a história da exclusão inspire, agora, solidariedade — e não intolerância.

Por Pedro Costa

 

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