Coimbra, 18 out 2025 (Lusa) – Um estudo conduzido por uma investigadora do Instituto Superior Miguel Torga, em Coimbra, permitiu concluir que a moda, para além de atrair os turistas mais gastadores, funciona como um motor para as economias locais.
“O turismo de moda não deve ser visto apenas como um palco para tendências. É um catalisador de desenvolvimento urbano, cultural, social e económico, capaz de transformar destinos turísticos e dar-lhes uma nova relevância”, destacou a investigadora que conduziu o estudo, Maria Nascimento Cunha.
Segundo uma nota de imprensa enviada à agência Lusa, os turistas atraídos por semanas da moda e desfiles internacionais gastam, em média, 30% mais do que outros visitantes, superando os mil dólares por viagem.
Este padrão de consumo já era conhecido, mas a investigação de Maria Nascimento Cunha mostra que “o turismo de moda é hoje uma estratégia de promoção sociocultural para dinamizar a economia das cidades, muito para além do nicho do luxo”.
A docente portuguesa é coautora, com o investigador ucraniano Oleksandr P. Krupskyi, do capítulo “Impacto da Comunicação Visual do Turismo de Moda nos Consumidores de Destinos Icónicos”, que integra o livro “Indústria da Moda e Estratégia Turística: Transformar Destinos e Moldar Experiências”, coordenado por académicos de Itália e da Índia, e que reúne contributos de 34 autores de 16 países.
O estudo conduzido pelo Instituto Superior Miguel Torga, que inquiriu turistas em Portugal e Espanha, concluiu que conteúdos visuais de qualidade – imagens e narrativas associadas à moda – explicam 60% do nível de envolvimento dos viajantes com os destinos.
“Na prática, isso significa que campanhas visuais eficazes aumentam significativamente a probabilidade de visita. Além disso, grandes eventos de moda, como a Paris ou a Milan Fashion Week, geram um aumento de cerca de 15% nas receitas turísticas nos meses seguintes”, referiu.
De acordo com Maria Nascimento Cunha, “uma comunicação visual sofisticada cria uma ligação emocional entre os turistas e as cidades”.
“Quando essa ligação é criada, os visitantes não vêm apenas assistir a desfiles: prolongam a estadia, regressam mais tarde e aproveitam para conhecer o património, a cultura e a identidade local”.
No que toca ao perfil destes viajantes, “dois terços são mulheres e a faixa etária dominante situa-se entre os 30 e os 39 anos”, o grupo mais ativo em redes sociais e plataformas digitais.
“Os resultados mostram a importância de pensar o turismo de moda numa lógica digital e estratégica, porque este público é altamente recetivo a experiências imersivas e a campanhas visuais”, indicou.
Para além do impacto económico imediato, o turismo de moda “pode ser usado como estratégia de revitalização em cidades emergentes ou menos conhecidas, ajudando a reduzir a sazonalidade turística e a projetar internacionalmente a identidade cultural local”.
Alerta, no entanto, para os riscos de consumismo e para a pegada ambiental do setor, com o caminho a passar por “alinhar estes eventos com práticas responsáveis: slow fashion, economia circular, valorização do artesanato e investimento em tecnologias verdes”.
“A moda pode ser tanto parte do problema como parte da solução. Cabe a cada comunidade urbana escolher o caminho que valoriza as tradições locais e cria oportunidades para além do consumo rápido”, concluiu a investigadora.