Debate “Fake News” realizado no Parlamento Europeu, promovido pelo eurodeputado Sérgio Gonçalves, reuniu jornalistas, eurodeputados e estudantes para discutir o impacto da desinformação na democracia e o papel do jornalismo na era digital.
No dia 14 de Outubro decorreu no Parlamento Europeu um debate sobre o impacto das fake news na sociedade e na democracia, uma iniciativa promovida pelo eurodeputado Sérgio Gonçalves, que reuniu jornalistas madeirenses e eurodeputados num painel de reflexão sobre a desinformação no espaço europeu.
O debate contou com a presença de Gil Rosa, subdiretor de conteúdos da RTP Madeira, Ricardo Oliveira, diretor do Diário de Notícias da Madeira, e Miguel Silva, diretor do JM Madeira, além dos eurodeputados André Rodrigues e Paulo Nascimento.
“As fake news sempre existiram, mas agora espalham-se mais depressa”
Ricardo Oliveira destacou que a desinformação não é um fenómeno novo, mas sim um problema amplificado pela velocidade e alcance das redes sociais. “As fake news sempre existiram, mas agora espalham-se mais facilmente e mais depressa. Muitas vezes, têm origens anónimas com objetivos políticos, comerciais ou até pessoais”, afirmou, sublinhando a importância de verificar sempre a credibilidade das fontes antes de partilhar informações.
O diretor do DN Madeira apelou ainda à criação de projetos de literacia mediática e de mecanismos de verificação, reforçando que “a liberdade de expressão é essencial, mas deve obedecer a regras”. “Como jornalistas, temos de dar o máximo de dados possíveis para que as pessoas possam fazer o seu próprio julgamento”, concluiu.
“A desinformação já não é feita de forma amadora”
Miguel Silva, diretor do JM Madeira, alertou para o crescimento de estruturas organizadas de manipulação informativa: “A desinformação já não é feita de forma amadora. Existem agentes e estratégias bem delineadas para influenciar a opinião pública.” Sublinhou que regular não é fácil, mas é urgente discutir como fazê-lo e educar para a literacia do mesmo.
A literacia política e o perigo da manipulação
O eurodeputado André Rodrigues expressou preocupação com o “índice baixíssimo de literacia política”, considerando que essa fragilidade torna os cidadãos mais vulneráveis à manipulação. “Antigamente, partilhava-se um entendimento baseado em factos científicos. Hoje, quando uma opinião vale tanto quanto um facto, algo está muito errado — e isso ameaça a coesão social e a própria democracia”, alertou.
Lembrou ainda que “o número de pessoas a viver em regimes democráticos desceu de 70% para menos de 50%”, sublinhando que “vivemos ataques verdadeiros à democracia”.
Jornalismo com rigor e compromisso
Durante o debate, foi também discutida a diferença entre notícia e opinião, destacando-se que o jornalismo deve ser pautado pela separação clara entre informação factual e análise subjetiva. “Um jornal deve trabalhar não para as audiências, mas com consciência de que elas existem. O compromisso dos jornalistas é relatar os factos com rigor e interpretá-los com honestidade”, foi sublinhado.
O eurodeputado Paulo Nascimento apelou ainda aos meios de comunicação social para valorizarem mais as boas práticas institucionais; referiu que são feitas centenas de coisas positivas e já aconteceu que por vezes é destacada a única que correu menos bem. Reforçou que é importante equilibrar o tempo mediático às várias cores políticas e dar boa visibilidade também ao que é construtivo.
Jovens madeirenses no Parlamento Europeu
Entre os convidados estiveram os alunos vencedores do concurso Europe Calling, um projeto promovido por Sérgio Gonçalves, que desafia estudantes do ensino secundário e profissional da Região Autónoma da Madeira a refletirem sobre o futuro da União Europeia.
Participaram alunos da Escola Secundária Francisco Franco e da Escola de São Vicente, que participaram ativamente no debate, colocando perguntas e comentários muito pertinentes que enriqueceram a discussão. Ouviram ainda o apelo do painel para se tornarem “agentes de cidadania ativa”, cultivarem o hábito da leitura e procurarem fontes credíveis de informação.
“A desinformação ameaça a confiança pública e, com ela, a própria democracia. É essencial formar cidadãos críticos e jornalistas comprometidos com a verdade”, concluiu Sérgio Gonçalves.