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Num tempo em que o mundo do trabalho se reinventa a cada década, convém distinguir com clareza dois conceitos frequentemente confundidos: o trabalho remunerado e o emprego remunerado.

Esta distinção não é meramente terminológica, encerra implicações profundas para a cultura empresarial, a ética profissional e o desenvolvimento humano nas organizações.

O trabalho remunerado é, por natureza, uma actividade que transcende o simples acto de cumprir tarefas. É expressão de uma vontade criadora, de um compromisso com o fazer bem, com o contribuir para algo maior do que o indivíduo. Sob este prisma, o trabalhador não é apenas um executor, mas um agente de transformação.

Trabalhar é envolver-se com o que se faz, é assumir responsabilidade, é crescer com o processo. O trabalho exige presença, sentido crítico, honestidade e disponibilidade para colaborar, mesmo quando isso implica esforço adicional, horários flexíveis ou desafios inesperados.

O emprego remunerado, por seu lado, é uma relação contratual, formal, que define direitos e deveres entre empregador e empregado. Embora necessário para garantir estabilidade e justiça laboral, o emprego tende a limitar a autonomia e a criatividade. O empregado cumpre funções, respeita horários, e muitas vezes vê-se como parte de uma engrenagem, não como sujeito activo do seu percurso.

Quando o emprego se sobrepõe ao trabalho, corre-se o risco de cultivar uma cultura de conformismo, onde o objectivo é apenas cumprir o horário e não falhar. A ética do trabalho dá lugar à lógica do mínimo necessário.

A forma como uma empresa valoriza o trabalho ou o emprego determina a sua cultura. Organizações que estimulam o trabalho como expressão de valor tendem a ser mais inovadoras, éticas e resilientes. Promovem o pensamento crítico, a colaboração entre departamentos, a ajuda mútua e a superação de silos hierárquicos.

Já empresas que apenas contratam para ocupar funções correm o risco de estagnar. A ausência de inteligência emocional, de sentido de pertença e de propósito colectivo mina a produtividade e o espírito de equipa.

Muito se tem dito sobre as diferenças entre gerações no mundo do trabalho. Verifica-se em Portugal, como noutros países europeus, uma tensão crescente entre os valores dos trabalhadores mais jovens e os das gerações mais experientes.

As gerações mais novas, moldadas por um mundo digital, veloz e híper conectado, tendem a valorizar benefícios imediatos, como os horários flexíveis, o trabalho remoto, as tarefas bem delimitadas, as pausas frequentes e uma separação clara entre a vida pessoal e a profissional. Esta abordagem, embora legítima, revela, por vezes, uma menor disponibilidade para o esforço adicional, para a colaboração fora do seu âmbito funcional, ou para o pensamento estratégico a longo prazo.

É comum observar-se, entre jovens trabalhadores, uma rotatividade elevada por aumentos salariais mínimos, uma resistência a reuniões fora de horas (mesmo quando com equipas internacionais), e uma atitude de cumprimento mínimo que contrasta com o espírito de entrega das gerações mais velhas.

Por outro lado, os trabalhadores com mais de 55 anos, em geral, demonstram maior sentido de responsabilidade, lealdade institucional e capacidade de sacrifício. Vestem a camisola, ajudam colegas de outros departamentos, e não hesitam em prolongar o seu horário quando o bem da empresa o exige.

Contudo, será conveniente reconhecer que estas tendências não são absolutas. Existem jovens profundamente empenhados e seniores desmotivados. Mas a cultura dominante entre gerações é, de facto, distinta, e as empresas devem estar preparadas para gerir essa diversidade com inteligência e com justiça.

O empreendedorismo surge como uma forma de trabalho que recusa os limites do emprego tradicional. Exige visão, coragem, valores e uma entrega total ao projecto. É, por excelência, a expressão do trabalho como missão, onde o sucesso não se mede apenas em lucros, mas em impacto, inovação e legado.

Empresas que cultivam o espírito empreendedor entre os seus colaboradores, mesmo dentro de estruturas formais, colhem os frutos de uma cultura mais viva, mais ousada e mais comprometida.

Revalorizar o trabalho em detrimento do emprego é um imperativo cultural e ético. Significa reconhecer que o verdadeiro motor das organizações não são os contractos, são as pessoas que, com sentido crítico, honestidade e responsabilidade, se entregam ao que fazem.

O futuro das empresas, e por extensão, da sociedade, depende da nossa capacidade de cultivar ambientes onde o trabalho seja mais do que uma obrigação. Seja uma forma de realização, de contribuição e de crescimento mútuo.

Mas o mundo do trabalho é o que é, e tudo isto, por certo, não passa de uma utopia!


 



 

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