UE/África: África do Sul continua a ser o parceiro mais importante da UE no continente - analista



Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!


O analista sul-africano André Thomashausen considerou hoje à Lusa que a África do Sul continua a ser para a União Europeia (UE) o parceiro “mais importante” no continente, destacando a aliança de segurança militar e a mega transformação da indústria energética em curso no país africano.

“As principais razões são os laços económicos muito fortes desde a Segunda Guerra Mundial”, salientou, acrescentando que “a partir dos anos 1950, a industrialização e o importante setor da indústria da defesa foram liderados por grandes empresas britânicas, francesas e alemães, enquanto, que o setor bancário e dos seguros sempre foi, e continua a ser, dominado pelo Reino Unido”.

O jurista sul-africano e professor catedrático jubilado em Direito Internacional e Comparado da Universidade da África do Sul (UNISA), referiu à Lusa que além da forte integração económica com as empresas europeias, existe atualmente na África dos Sul “uma imigração europeia importante que tem o papel de servir de motor económico do país, sendo a comunidade portuguesa e luso descendente, a mais forte”.

“Juntamente com os emigrantes alemães, gregos, franceses, italianos e britânicos, somam cerca de 2 milhões que dominam o importante setor das pequenas e médias empresas”, vincou.

Nos últimos anos, estabeleceu-se um “novo interesse” europeu na África do Sul com o megaprojeto da transformação da indústria energética no país africano, que é considerado “a maior capacidade de geração de energia” e a “mais alta taxa de eletrificação” no continente.

A dimensão, segundo o analista sul-africano, é ilustrada através da capacidade de geração de energia instalada, estimada em cerca de 40 GW, que a África do Sul dispõe para uma população residente de mais de 60 milhões de pessoas, segundo dados oficiais.

Nesse sentido, André Thomashausen sublinhou que “a segunda maior economia do continente, a Nigéria, tem uma capacidade geradora de somente 12 GW para uma população de 206 milhões”.

“Pretória produz 80% da sua energia a partir de centrais térmicas alimentadas a carvão, recurso encontrado em abundância no país, o que faz com que seja o 12º produtor de emissões de CO2 no mundo”, adiantou.

As emissões de dióxido de carbono são a principal fonte da mudança climática no planeta.

A Europa, liderada pela Alemanha e a França, comprometeu-se no ano passado a disponibilizar 10.000 milhões de euros para “incentivar” Pretória a substituir as centrais de carvão por fontes de energia renovável.

Segundo o jurista sul-africano, “existe ainda um compromisso de mais longo prazo no âmbito da conferência COP26, para mais 100.000 milhões de euros de investimentos em energias renováveis na África do Sul, que inclui a produção de hidrogénio “verde” a partir de energia solar”.

“Carente de energia hidroelétrica, a África do Sul não poderá desfazer-se da energia nuclear e do gás natural. No entanto, a concentração dos interesses europeus no setor da transformação energética do país é também um forte incentivo para as indústrias da energia renovável europeias, bem como um esforço para “aguentar” uma África do Sul em deslize económico crescente e alarmante, com metade da população adulta permanentemente desempregada e o setor industrial em declínio acelerado”, referiu à Lusa.

O analista considerou ainda “importante” que “a União Europeia vê atualmente na África do Sul um país aliado da visão de segurança militar definida pela Organização do Atlântico Norte (NATO) e na estratégia dos EUA da “guerra contra o terrorismo islâmico””.

“A embaixada da UE em Pretoria vela atentamente pela isolação diplomática da Rússia e da China, contrapondo ativamente os ‘lobbies’ que querem aumentar a capacidade de geração de energia nuclear, em cooperação com a Rússia e a China”, adiantou o analista sul-africano.

“A UE conseguiu “imunizar” o setor da defesa na África do Sul contra uma cooperação com a Rússia e a China, mas não conseguiu frustrar o avanço de empresas chinesas no setor privado, tendo a China conseguido controlar financeiramente o maior banco privado, e a quase totalidade do setor das comunicações móveis, de equipamentos eletrodomésticos e transportes rodoviários”, concluiu em entrevista à Lusa.

Luso.eu - Jornal das comunidades
Redacção
Author: RedacçãoEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
Para ver mais textos, por favor clique no nome do autor
Lista dos seus últimos textos



Luso.eu | Jornal Notícias das Comunidades


A sua generosidade permite a publicação diária de notícias, artigos de opinião, crónicas e informação do interesse das comunidades portuguesas.