O interior também é Portugal (III)



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Nos últimos dois artigos abordei algumas questões sobre os problemas que afectam o interior do país. Pretendo, neste artigo, desenvolver alguns desses pontos e abordar outros de modo a encerrar este tema, deixando o que escrevi para reflexão dos leitores. Dos temas abordados gostaria de referir aqui dois desses temas. A questão da Saúde e da educação. Dois bens essenciais, há muito arredados do interior do país. Dois bens que, pelos vistos, os Portugueses do interior não têm direito. Para que percebamos um pouco daquilo que falamos, atentemos na seguinte situação:  muita gente do interior vive de pequenas explorações agrícolas familiares, cujo rendimento médio mensal é de cerca de 350€. Com estes rendimentos, como poderá esta gente ter acesso aos cuidados de saúde especializados se o acesso aos mesmos implica longas e dispendiosas deslocações? Como poderá esta gente, que tanto contribui para o desenvolvimento deste país, querer dar um futuro melhor aos seus filhos se, para acederem a determinados graus de ensino, terão de ir viver para outras terras, com os custos que isso comporta?

Em pleno Séc. XXI a cobertura de rede móvel e de internet, no interior do país, é uma quase inexistência. É possível percorrer uma imensidão de território no interior deste país sem termos acesso a rede móvel, quanto mais a dados de internet. Quantas empresas já tiveram de cancelar entregas porque, devido à péssima internet, não conseguiram emitir as guias de transporte e, como tal, os camiões tiveram de ficar parados? Assim, torna-se difícil criar empresas e postos de trabalho. Assim é difícil ter as mesmas condições que os das cidades no acesso à educação, cultura, etc. Todos nós nos lembramos, na altura da pandemia da COVID19, da jovem de Serapicos, Vimioso, ter de percorrer kms na carrinha com o pai para ter acesso a alguma rede e assim poder assistir às aulas. E tudo isto em pleno Séc. XXI. Na era da transição digital, da digitalização. Para resolver esta situação, bastaria que os “sábios que nos têm governado” tivessem colocado na lei a obrigatoriedade de cobertura de 95% do território, e não 95% da população.

Mas os “deuses do olimpo” que têm governado este país, nos últimos anos, não conseguiram perceber, por exemplo, a mudança que estava em marcha, no que ao turismo diz respeito. O turismo deixou de ser, como antigamente, turismo de praia, para se transformar num turismo de interior. A agitação social em que diariamente a maioria de nós vive, levou a que nas férias passássemos a privilegiar a calma do interior e a aproveitarmos todas as suas mais valias, como por exemplo as maravilhosas paisagens, a comida, a cultura, a tranquilidade, o sossego. Todas as maravilhosas coisas que o interior pode proporcionar. É que caso ainda não tenham percebido, há gente para além da praia! Mas ao não perceber esta mudança de paradigma, no que ao turismo diz respeito, o Governo falhou. Falhou porque, para esta mudança ser estruturante, necessita de vias de acesso, de saúde, de educação, redes de telecomunicações, etc, ou seja, de todas as condições que o litoral e as grandes cidades oferecem. Mais uma vez o interior é penalizado e esquecido. Infelizmente esta tem sido a sina do interior deste país. E assim, alegre e contente, o Estado dá-se ao luxo de  desperdiçar recursos fabulosos de homens e mulheres, riquezas e saberes e destruir o futuro de muita gente.

 

Fernando Vaz das Neves

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Fernando Vaz Das Neves
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