Legislativas: Na ressaca eleitoral



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Eu, tu e o outro.

Na ressaca de um acto eleitoral nós retiramos interpretações e analisamos resultados. Espera-se que comentadores profissionais e políticos façam também eles as suas análises. Todos puxam pelo seu favorito, e os jornalistas também, e opinam, o que é eticamente reprovável. Nas redes sociais são apresentadas publicações de regozijo, mas também de gozo. Em todos os lados vencedores humilham vencidos, por vezes com uma falta de cidadania e patriotismo incomensurável. Uns são mais humilhados que outros, e o espetáculo é degradante.

Recebi um whats app, que afinal não é mais do que um tiktok, onde um jornalista supostamente do NYT tenta perceber as eleições portuguesas. Diz estar a escrever sobre os resultados e a perceber como correu.

Do lado de lá, ao telefone, alguém lhe diz que os socialistas ganharam. Envia parabéns e exclama “wow”. Pergunta se está tudo bem e se é necessário enviar tropas? E, questiona se este é um país socialista do sul da Europa, tipo Coreia do Norte, para pessoas com bigode?

Depois exclama – ah! Os socialistas não são bem socialistas, então o que são? E, repete o que lhe dizem, exclamando de seguida – “são sociais-democratas moderados”. Retorquindo pergunta – “se são sociais-democratas e não socialistas porque não se junta ao partido social-democrata que perdeu? Admirado com o que ouve, repete – “Ah os sociais-democratas não mesmo sociais-democratas, claro! Então onde os situarias?” O outro afirma serem de centro-direita. “Faz sentido”, repete mais uma vez.

Procurando tomar a conversa por sua conta, pergunta se é “social-democracia tipo, empresas estatais, estado de previdência, regulação dos mercados”.

E, volta a intervir questionando – “Eu li que os liberais estão a explodir. Os liberais eu conheço, nós também os temos. Estão sempre a papaguear na CNN, são obviamente de esquerda”, afirma. “Não? Os vossos liberais são de direita? Meu Deus. Deixa-me adivinhar, os vossos comunistas também não são comunistas? Ah. They are! Então porque estão no parlamento?”. E, acrescenta perguntando se não deviam estar a preparar a execução dos latifundiários. Aí informam-no que eles apoiaram o anterior governo socialista que não é socialista. Não faz esperar por uma observação pertinente: - “Comunas apoiam “burgeois” democracia”. E, já no final questiona sobre o que é o Chega, dizendo ter pesquisado e o resultado não foi mais do que “it’s enough”. De «subetão» vem a pergunta – “Chega de quê? De Socialismo?” e de seguida - “Mas se o partido socialista não é socialista isso não faz sentido”.

Quase a terminar a ligação, o nosso pretenso americano tem uma última questão - “há um tipo, Chicão. Eu tinha imensas esperanças nele, é um tipo super carismático, a Forbes até escreveu um artigo sobre ele, e lidera o Partido Popular, que é um partido que é popular, aposto que teve imenso apoio, como é que correu?”. A resposta foi breve e ele repete com admiração – “Zero assentos? Olhe, ligo mais tarde, acho que vou escrever sobre a Rússia.

Se não percebemos antes, teremos de começar a perceber como nos vêm, porque, afinal, num país altamente dependente das relações e comércio externo, torna-se mais importante perceber como nos entendem, do que continuar a abordar a questão resultante dos descobrimentos portugueses.

Aquando do mundial de rugby na Africa do Sul, em 1995, no momento em que se tornava importante «casar» esta grande nação africana, segregada, Mandela quis que os outros vissem o seu país com profundidade e empenho integrativo, e para isso teve de o transformar. Durante dois anos uma equipa perdedora, composta por brancos, a que adicionaram um negro, abraçou a causa do presidente e lançou-se numa cruzada que implicou a conquista da integração e uma nova visão sobre o colectivo, sobre uma nação secularmente dividida. A áfrica do Sul foi campeã e, afinal, não foi só o resultado do jogo que ficou para a história.

Na ressaca das eleições de janeiro de 2022, sobressai um desalinhamento e falta de unidade gritante que nada contribuirá para relançar o país como uma casa e um destino de verdade, fraternidade, onde reina a paz e o trabalho produtivo. E, tal como no gag do Tiktok, aqui há um desacerto que não deixa ouvir o tiktak.

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Luis Costa Matos
Author: Luis Costa MatosEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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