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Labregos vs Betinhos





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Já passaram talvez uns sete anos, mas ainda me lembro como se fosse ontem. A minha filha ia deixar a creche, para entrar numa pré-primária. E qual não foi o meu espanto quando a minha esposa me disse que andava a visitar as escolas da redondeza. Como assim, vais visitar escolas ? A gente pode escolher a escola para onde ela vai ? Ainda fui verificar o calendário, para ver se era dia das mentiras.

 

Na altura eu já por cá trabalhava havia um par de anos, mas ainda tinha comigo os hábitos mentais de Portugal. E sucede que em Portugal, não se escolhe a escola das crianças. Primeiro porque não há salário para pagar uma escola privada, e segundo porque vais para a escola pública para onde te mandam. Vives em tal rua, vais para tal escola. Simples, claro, sem necessidade de cansar a mioleira dos pais.

 

Na Bélgica, descobri na altura, os papéis estão invertidos. São os pais que escolhem a escola, e são as escolas que se devem esforçar para atrair os alunos. Na altura isto fez-me tanta confusão, e ainda mais quando a minha esposa se punha a falar de projectos educativos. Tomei a decisão mais inteligente possível, e deleguei nela a escolha da escola. Afinal ela é professora, sempre percebe mais da poda do que eu.

 

Mas na altura caiu-me a ficha. Quão diferente teria sido o meu percurso escolar se os meus pais tivessem tido a escolha da escola? E o das outras pessoas da minha geração? Não é difícil de imaginar que teríamos um país muito diferente. A título de exemplo, num dos episódios do podcast 45 Graus, o Carlos Guimarães Pinto fala do absurdo que foi ter sido enviado para uma escola focada no ensino profissional, porque nasceu num bairro pobre de Espinho. O Carlos explicou que da secundária dele, foram 6 pessoas para a universidade. E quantos mais não teriam continuado os estudos se tivessem tido o suporte da escola? Porque se tivessem nascido no lado certo da estrada, teriam ido para a secundária que preparava os alunos para a universidade. Alguém tinha decidido que as crianças nascidas no bairro dos pobres seriam, com sorte, cabeleireiras, mecânicos e electricistas. Já as nascidas no bairro dos ricos seriam doutores e engenheiros. A apetência e os talentos de cada um não eram para cá chamados, és pobre vais para ali, rico vais para acolá.

 

Para se perceber a idiotice deste sistema, basta pensar no que seria se fosse assim noutros assuntos. Por exemplo, no futebol. Nasceste em Trás-os-Montes, vais para a baliza. Vens do Minho, és ponta-de-lança. Se nasceste na Madeira, podes tentar a sorte a trinco ou lateral. És algarvio, então dedica-te ao basquete. Absurdo, mas no entanto aceitamos que a nossa morada dite onde os nossos filhos estudam. Uma decisão importante e que os vai marcar para toda a vida.

 

Em Pombal, de onde venho, a coisa não era muito diferente de Espinho. A escola primária era na aldeia, a preparatória e a secundária na (então ainda) vila de Pombal . Quando terminavam a primária, os alunos ali à volta iam para uma das duas escolas preparatórias da vila. A malta das aldeias, os labregos, para uma, os meninos da cidade, os betinhos, para outra. Não há cá misturas, era o que mais faltava que o finório da vila se sentasse ao lado do tamarroano dos montes. E assim continuavam praticamente até ao 9o ano, só quebrando o apartheid social quando se escohiam uma das quatro áreas de estudo. Porque secundária há só uma, senão provavelmente nem aí se misturavam.

 

É certo que era possível ludibriar o sistema, por exemplo falsificando a morada, uma técnica que ainda hoje continua viva e com saúde. O que francamente não surpreende. Temos um problema antigo de décadas, os pais querem escolher a escola mas limitados por um absurdo sistema medieval, e sem dinheiro lá desenrascam uma solução manhosa. Mas como quem está no poder tipicamente já tem os filhos em escolas privadas, o problema acaba por ser invisível. E quem sente o problema na pele, encontra o buraquinho na rede por onde escapar e dorme todo contente por uma vez ter levado a melhor. E é assim, que rindo e cantando, as décadas se vão passando, sem que os problemas se resolvam.

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Nelson Gonçalves
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