COVID: A nova frigideira cerebral



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Confesso que não queria escrever sobre o COVID. Todavia, olhando para tudo o que se tem passado desde o início desta pandemia, não resisti. Porque acho, sinceramente, que esta pandemia fritou a mioleira da nossa classe política.

Comecemos pelo início.

Em Dezembro de 2019 surge o primeiro caso de infecção por Coronavírus na cidade de Wuhan, China. A 15 de Janeiro de 2020 a douta Directora Geral da Saúde veio a terreiro sossegar os Portugueses quando disse: “não há grande possibilidade de chegar um vírus destes a Portugal”.  E vivemos, assim, felizes e contentes, até ao dia 13 de Março de 2020, data em que ocorre o primeiro óbito em Portugal por COVID 19.

A partir desse dia várias foram as mutações genéticas ocorridas, quer no vírus, quer no cérebro de quem nos governa.

No que se refere às mutações genéticas do vírus, este tornou-se selectivo: Não ataca em eventos políticos, não ataca o PCP nem a CGTP, não ataca nas touradas, não ataca nos espectáculos onde vai o Primeiro Ministro e o Presidente da República, não ataca na Fórmula 1 etc, ou seja, não ataca em nenhum evento autorizado pela DGS. Apenas ataca na família, nas igrejas, nos cemitérios, nos restaurantes, nos cafés, a partir de determinadas horas, aos fins de semana etc.

No que se refere às mutações genéticas ocorridas no cérebro de quem no governa, as mesmas repercutem-se nas medidas desgarradas que têm sido tomadas. Não pretendo aqui, por falta de espaço, tratar de todas. Mas tratarei de algumas.

A primeira prende-se com os assintomáticos. Desde o início da pandemia que um conjunto de médicos (aqueles a quem a ordem dos médicos pretende instaurar processos) vinha dizendo que os assintomáticos nem estavam doentes nem transmitiam o vírus. Todavia iam contra a narrativa oficial. Pessoas houve – incluindo eu – que passaram dias e meses em casa, fazendo testes atrás de testes até ao tão desejado teste negativo para poder sair. Agora os assintomáticos apenas ficam 10 dias em casa. Ao fim desses dias podem retomar vida normal sem qualquer teste que dê negativo, não se sabendo se continuam infectados ou não.

A segunda medida prende-se com esta “loucura” do recolher obrigatório ao fim de semana às 13 Horas e encerramento de estabelecimentos a essa hora. Diz o Primeiro Ministro “temos precisamente em conta aquilo que todos os inquéritos epidemiológicos nos dizem: 68% das transmissões estão a correr neste momento em momentos de convívio familiar e social.” Como dizia Benjamin Disraeli, “Há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”.  Dá pena ver o desnorte do Governo. Ora vejamos: que perigo representa um casal com 2 filhos – que vivem debaixo do mesmo tecto -  ir almoçar ou jantar ao restaurante no fim de semana depois das 13 Horas? ZERO. Se queriam tomar alguma medida, com algum significado para travar o contágio, proibia-se simplesmente a circulação entre concelhos. O problema não está nos que cá estão, mas nos que possam vir de fora. E atente-se na coerência do Governo. Os Portugueses são obrigados ao recolher obrigatório; os turistas podem circular livremente, sem problema algum... Aliás, em coerência com a política do Governo, sugiro que se abram certas lojas só para os turistas….

 Por outro lado, o encerramento de superfícies comerciais às 13 horas vai provocar, por um lado, enchentes matinais nesses espaços, o que poderá contribuir para o aumento de contágios, por outro lado, assistiremos a tristes imagens de filas à porta para entrar nos estabelecimentos, uma espécie de venezuelização de Portugal.

O que o Governo deveria ter feito era uma cerca à área metropolitana de Lisboa, aquando do surto. Mas faltou-lhe essa coragem. Qualquer leigo sabe que à capital, de qualquer país, acorrem pessoas do país inteiro procurando melhores condições de vida. Ora, se há lá pessoas do país inteiro, ao deslocarem-se para as suas terras aumentam o perigo de contágio. Como se diz por aqui, “não é preciso ser estudado para perceber isto”.

Mas há uma coisa que esta pandemia veio provar, o sucessivo desinvestimento (quer em meios, quer em Recursos Humanos) dos sucessivos Governos no sistema de saúde.

E pelos vistos este Governo ainda não percebeu isso. Pois quem olhar para o Plano Nacional de Investimentos (PNI) verá que nem 1 Euro vai para o sistema de saúde. A classe política continua, feliz e contente, a alimentar o povo com betão.

Infelizmente Miguel Torga continua actual “o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados”.

 

(Artigo escrito de acordo com a antiga ortografia)

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Fernando Vaz Das Neves
Author: Fernando Vaz Das NevesEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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