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A felicidade do meu pai só necessitava de continuar um pouco mais. Durante toda a vida foi operário da construção naval. Perdeu o emprego a poucos anos da reforma. Tinha 60 anos de idade.
Homem assertivo. Tinha boa aparência. Cabelo grisalho, magnificamente ondulado. Após o despedimento, considerou outros empregos, todavia, sem sucesso. Ele venerava a ideia de voltar à construção naval.
Após uma conversa amigável, o jovem entrevistador bateu com a mão na secretária e disse:
– Bem, acho que encontrámos o nosso novo trabalhador! Quando pode começar?
Embora a política de recrutamento da empresa exigisse mais uma fase de seleção, contudo, ali estava, o candidato mais qualificado.
– Pode esperar ser notificado oficialmente da sua contratação dentro de dias – disse o jovem e apertaram as mãos.
– Uma pequena coisa, aqui na candidatura, esqueceu-se de preencher a sua idade.
Não era esquecimento, era medo, era trauma. Tendo sido frequentemente excluído devido à sua idade, tinha aprendido a deixar o espaço em branco. Todavia, desta vez era diferente, pois pensava que estava praticamente contratado.
– Tenho 60 anos – disse o meu pai, com um toque de desânimo.
O jovem entrevistador, baixando a cabeça e enrugando a testa:
– Estou a ver – disse numa voz subitamente rasa e impessoal.
– Bem, temos mais candidatos a entrevistar, pelo que não posso fazer promessas. Nós avisaremos.
Ontem, foi o seu aniversário. Quando cheguei, sorrimos um para o outro e o brilho nos olhos apareceu. Ficámos simplesmente sem nada para dizer. Pensei como são verdadeiras as palavras de Catão, O Velho – «Nunca ele está mais ativo do que quando nada faz, nunca está menos só que quando a sós consigo mesmo». Agora, o meu pai tem o cabelo completamente branco.
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