UM NOVO DEUS (Crónica)



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No caminho para o meu trabalho, atravesso o coração da cidade Invicta. As ruas estão pejadas de turistas oriundos dos quatro cantos do mundo. O destino Porto e Norte de Portugal nunca teve tantos turistas como agora, sobretudo espanhóis, franceses, ingleses e alemães.

De súbito deparo com um turista com as mãos levantadas ao alto em jeito de prece. Mas o que estaria aquele turista a fazer numa posição tão devotado a algum Santo ou Deus?

Erguia as mãos ao alto e olhava para os céus. Eu estava cheio de curiosidade, à medida que me aproximava dele, pois ele estava imóvel no meu caminho. Abrandei o passo ao cruzar-me com aquele turista que continuava imóvel a olhar para o céu.

De súbito percebi que ele segurava na mão, não um objecto sagrado, mas sim o telemóvel e provavelmente estava a fotografar monumentos.

Só naquele instante é que me dei conta de como o telemóvel se apoderou dos humanos e que muita gente repetia aquele gesto vezes sem conta durante o dia, sobretudo os turistas, para fazer fotos para mais tarde recordar. Ou talvez não.

Eu próprio me dei conta que faço aquele gesto mecânico vezes sem conta por gosto de fotografia e nada melhor que o telemóvel para registar imagens, apenas por uma questão de facilidade. Claro que as máquinas fotográficas dificilmente serão substituídas pelos telemóveis para fazer boas fotografias.

De facto, também me dou conta que aqueles turistas estiveram nos locais mais turísticos do Porto, atrás do telemóvel para fazer pequenos vídeos ou fotos. De facto, nunca estiveram lá.

Muito provavelmente nunca estiveram nos locais turísticos com os dois pés, os olhos, a cabeça e o coração. Só se darão conta que passaram por ali depois de verem em casa as fotos e os vídeos que fizeram no Porto. Ou talvez não.

Mas é apenas uma mera hipótese, pois eu faço centenas de fotos e depois raramente as volto a ver. É estranho, não é?

Por isso decidi que irei visitar os locais turísticos sem telemóvel ou no limite com a máquina fotográfica no bolso. Pelo menos assim saberei que estou a fazer fotos de forma mais consciente.

No fundo, a vida também se resume à consciência do que estou a viver em cada momento. Muitas vezes passo o dia a correr de cá para lá e nem me dou conta do dia a passar. Costuma-se dizer que quando o dia passa rápido é porque correu bem.

Mas talvez seja necessário abrandar um pouco, criar um espaço próprio para respirar fundo nem que seja cinco minutos por dia.

Hoje de manhã, ao viajar de carro para o trabalho, pratiquei essa respiração mais profunda, recebendo o ar fresco nos pulmões. Saí do carro mais relaxado, apesar de terem sido breves 5 minutos.

Só assim poderei tomar consciência plena do meu corpo, do coração e do pulsar da vida.

Que o telemóvel possa ficar no bolso durante alguns momentos!

 

21-06-2022

O autor produziu este artigo, da sua responsabilidade, para os leitores do jornal online LUSO.EU. 

João Pires

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