
A ternura carinhosa, a admiração emotiva, o espanto maravilhoso de um nascimento foi sempre sentido fortemente pelos pais aquando do nascimento de um filho. O nascimento de uma criança é um acontecimento de felicidade para os pais que assumirão, a partir dessa hora, uma relação paterno-filial para a vida inteira.
Abordar o nascimento de uma criança é um tema tão antigo como o dealbar da própria humanidade. Mas chegámos a um momento em que talvez tenhamos de o repensar para podermos atribuir-lhe ainda mais vigor, dado que, actualemnte, os meios técnicos à nossa disposição permitem-nos enviesar o seu autêntico sentido. Ter filhos, criar filhos era até algum tempo o acto mais nobre da vida de um humano. Um casal sente a realização completa ao participar na criação e na multiplicação da espécie humana, obedecendo assim ao imperativo transcrito no livro da Génese.
Nunca se imaginou que esse acto nobre e gratuito do dom da existência, pudesse tornar-se num acto mercantil e que a fórmula comum que exprime o desejo de “ter filhos”, “criar filhos” viesse um dia evoluir para “comprar filhos”, “pagar para ter um filho”, como se um filho pudesse ser um produto ou o resultado de uma produção, de uma fabricação, disponível no mercado, com uma qualidade determinada e com um preço a combinar.
Deus nos livre do enviesamento do evoluir desta sociedade petrificada e mercantil e tomemos a liberdade de passar para um registo totalmente poético para podermos ouvir, tal como todos os anos no final de Dezembro, o encanto maravilhoso de uma criança que nasceu e que se tornou também a fonte de uma vida nova para os que nEle acreditam. O Natal é a festa do nascer, o primeiro acto da abertura ao mundo, acompanhado dos encantos, da magia e da responsabilidade que é o acompanhamento da vida ao longo da existência.
O nascimento de uma criança é o acto mais criador que pode existir. Transforma-nos para toda a vida e cria em nós uma relação contínua e atenta ao longo de uma existência.
Ser pai e mãe são estados que não se aprendem nos bancos de nenhuma escola. Serão o amor, a atenção, a escuta que nos ajudarão a caminhar e a descobrir, ao longo da vida, as delícias de um amor filial e paternal.
O nascimento de uma criança exige de nós um novo nascimento e aqueles que são pais sabem que assim é. A relação com uma criança obriga-nos a colocar-nos à sua altura, isto é, a ser pequenos para podermos ouvir e compreender o que se passa na sua mente. Também neste aspecto as mentalidades evoluíram e, como avô, dou-me conta da enorme evolução que já houve em relação aos meus tempos! Nunca ouvi as minhas filhas invocarem o argumento de autoridade para fazermos calar uma criança. Vi sim afáveis atitudes para tentar compreender o que se pode passar na cabeça de um ente que ainda tem muito que caminhar. Também nunca vi, entre elas, brandir uma mão ameaçadora e correctora, tal como acontecia em outros tempos.
É verdade que é obrigação de os pais educarem os filhos, mas também não deixa de ser verdade que as crianças educam os pais que têm de nascer de novo para desabrocharem para uma nova atitude de viver com os seus filhos.
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