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DEPOIS DO EUROMILHÕES



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7 minutos de leitura 

A vida mudou depois de ter sido premiado no Euromilhões.

Mudou para melhor, pensas tu.

Errado, a partir daquele momento tudo passou a ser diferente. Até a cor do céu.

Mas vamos voltar ao início da história.

Desde miúdo que via o meu avô e os meus tios a preencher o boletim da sorte. Não era uma obrigação, mas sim um ato quase social. Por vezes, reuniam-se à mesa, depois do almoço, para jogar uma partida de dominó ou para preencher o boletim do jogo. Talvez a maioria das vezes ocorresse no café, junto à máquina das apostas.

Eu nada entendia daquilo, nem tão pouco percebia o alcance de um prémio em dinheiro. Era uma criança feliz, junto dos meus pais e avós e ainda brincava na rua com as outras crianças. Talvez aquilo fosse um divertimento de adultos tal como jogar uma partida de dominó, pensava eu.

Um dia mais tarde talvez viesse a preencher um boletim de jogo como aqueles.

Muito mais tarde, já adulto, dentro do carro, parado no meio do trânsito ouvi dois locutores da rádio a anunciarem a chave vencedora para o jackpot. Melhor dizendo, aqueles locutores asseguravam que aquela chave era a combinação certa de números para ganhar o Euromilhões.

Ainda no trânsito, consegui anotar os números mágicos que iriam conceder passagem para a dolce fare niente que sugere uma agradável ociosidade despreocupada, para sempre.

Aquilo seria quase mágico. Poder viver o resto da vida sem pensar em nada parecido com trabalho, caminhar à beira da praia praticamente o ano inteiro ou subir às montanhas para apreciar a neve. Ir às compras e encher os sacos sem preocupações de dinheiro. 

Enfim, um euromilhões só sugere coisas boas para o resto da vida. 

Assim que cheguei ao café, registei a chave milionária, tendo passado o resto da semana a fazer planos para comprar isto e aquilo, viajar para norte e para sul, pela europa e por todos os continentes. De carro, num cruzeiro ou de avião. Viajar.

Contei as horas e os dias até chegar o momento crucial para confirmar a verdade.

A ânsia de ganhar era tão grande que nem me ocorreu que milhares de ouvintes do programa famoso de rádio tivessem também ouvido a divulgação dos números mágicos.

De olhos postos na televisão, chegou o momento de serem anunciados os números associados ao passaporte para a total liberdade e felicidade.

O primeiro número conferiu, o segundo também e por ali adiante. Faltava o último número e eu já esfregava as mãos de contente. 

O apresentador que estava a fazer a extração dos números, engasgou-se e houve um compasso de espera. A tensão era enorme. Por fim, lá voltaram a rolar as bolas pela última vez para extrair o número em falta. Só faltava sair o número 3. O número do dia do meu aniversário. E saiu. Saiu a bola mas com dois 3. Um virado para o outro e formavam o número 8. Bolas. Parecia mesmo o número que faltava para o meu euromilhões. Afinal os locutores da rádio não acertaram totalmente nos números. Ou foi engano ou então irá sair no próximo concurso, pensei eu.

Apostei uma vez mais e outra e outra.

Entretanto havia terminado o curso e continuei a apostar. Comecei a trabalhar e continuei a apostar o valor mínimo permitido por cada concurso. As probabilidades de sair são tão pequenas que é praticamente indiferente fazer uma aposta ou 5 apostas.

Ao fim de alguns anos. Anos? Décadas para ser mais correto, continuei a apostar. No dia em que completaria 50 anos, decidi trocar pela primeira vez um número e alterar a chave milionária sagrada. Assim, em vez de apostar no 40 iria substituir pelo 50, o número do meu aniversário. Estava farto de apostar com a mesma chave sem ver luz ao fundo do túnel. Pois naquela noite fui surpreendido. 

Vou direto ao assunto pois não quero voltar a recordar aquela fatídica noite por muitas mais vezes. 

Faltava um número para ser o vendedor daquela noite. 

Adivinha o número que saiu em vez do 50. 

O manhoso 40 que nunca havia dado as caras, havia decidido sair naquela precisa noite em que eu completava 50 anos.

Apesar de se tratar da minha noite de aniversário, até as velas do bolo me custaram a apagar. Só perderam a chama, porque as lágrimas as apagaram. 

Na semana seguinte, ainda por recuperar, voltei a apostar na sorte.

Voltava à internet e procurava: euromilhoes resultados.

Recorri aos meus conhecimentos de estatística e comecei a construir as minhas próprias chaves baseado na frequência de saída dos números. Havia esquecido para sempre a maldita chave mágica que um dia se tornou realidade. Mas isso são águas passadas.

Na construção das chaves futuras, decidi excluir as combinações compostas exclusivamente por números pares, números ímpares, números seguidos ou números apenas relacionados com os dias do mês. Esta última exclusão tem uma explicação. Se apenas utilizasse os números do mês, estariam sempre excluídos os números entre o 32 e o 50. Também exclui das minhas combinações os números que nunca saíram ou saíram muitas vezes. 

Teria que haver uma combinação equilibrada de todos aqueles números.

Muitas vezes pesquisei na internet: “euromilhoes chave de hoje”

Depois de um ano a afinar o processo e a uma semana de festejar o meu 51º aniversário, havia apostado com os seguintes números: 19, 21, 35, 37, 39 + 2, 6

Qual o meu espanto que o primeiro número estava anunciado, o 2º, o 3º e o coração volta a disparar de esperança e ansiedade. Faltava o último número das estrelas. Já havia sido anunciado o 6, portanto só faltava o 2. Lembrei-me do que havia acontecido há muito tempo atrás e refreei os ânimos. 

A segunda estrela é o número 2. Arregalei os olhos e fui conferir à página da internet. De facto a chave estava confirmada. 

E agora? O que iria ser de mim?

Em vez de dar um salto e um berro de vitória, fiquei anestesiado sem saber o que dizer e calei-me. Mantive-me em silêncio durante o resto da noite.

E não me arrependi. Queres saber porquê?

Decidi manter em segredo aquela notícia. Só para mim. A minha mulher notou algo estranho em mim. As crianças também. Eu sabia que a notícia não ficaria por ali se eu tivesse decidido contar, ainda que pedisse segredo.

Chegou o dia de ter que ir receber o pagamento em mãos. Pediram para eu tirar uma foto no momento do recebimento do prémio. 

Pensei, pensei e não queria tornar público aquele prémio. Queria permanecer no anonimato e decidir com calma o que fazer ao dinheiro do prémio. 

De repente comecei a perceber que todo aquele dinheiro me começava a retirar o sono, por muitos sonhos que tivesse. Queria usufruir daquele dinheiro na tranquilidade a que estava habituado. Queria que os meus filhos recebessem uma parte sem questionar donde vinha tanto dinheiro. 

Mas como?

Fui receber o prémio disfarçado de dragão. Assim ninguém me iria reconhecer. Lá tirei as fotos. Só faltava deitar fogo pela boca. Mas isso não era conveniente pois ainda queimaria o cheque ou o saco das notas.

Cheguei a casa depois de passar pelo banco e fazer o depósito. 

E agora?

O que vou fazer ao dinheiro antes que me descubram e passe a ter uma fila interminável à porta de novos amigos para pedir dinheiro emprestado?

Ajudar a família? Fazer doações? Teria que saber muito bem a quem doar o dinheiro e como seria aplicado. Comprar um carro de luxo e uma casa ainda melhor? Uma casa em cada continente? Um barco? Viajar pelo mundo? Comprar a fonte da juventude eterna? Tantos projetos dentro da minha cabeça que não a deixavam pensar. Tinha a cabeça a estourar. 

Por outro lado, o dinheiro é de quem o sabe guardar ou gerir. Quantas vezes não se derreteram fortunas nas mãos dos incautos? Eu não quero ser um deles.

Caro leitor, por favor, dá a tua ajuda.

Deixa nos teus comentários o que farias a um prémio do euromilhões?

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Joao Pires
Author: Joao PiresEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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