A CULPA FOI DO PEDRO



Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!


Vivemos num país de doutores e engenheiros.

Não há gato pingado que se preze que não anseie por ser chamado assim, de uma forma ou de outra, independentemente da validade da sua formação.

No tempo em que ainda havia cheques bancários, conheci gente que, mesmo sem ter habilitações para tal, exigia que antes do seu próprio nome estampado no rectângulosinho de papel, fosse colocado um Dr. ou um Eng., sempre dava um outro sainete.

No nosso país, já poucos são os Antónios, os Manueis, os Josés, ou outros quaisquer nomes próprios, são todos Srs. Drs. ou Srs. Engenheiros. Com as Sras foi mais simples, trocaram só o Sr. Dona “fulana” por Sra. Dra. “sicrana”. Já ninguém é gente, são todos doutores e quejandos.

É estranha esta forma de estar, e graças ao amigo Adriano Silva, Bibliotecário, fiquei a saber das razões que os portugueses têm para usarem e abusarem desta forma de subserviência.

A história tem já quase cento e noventa e cinco anos, e nasceu no Brasil, a 11 de Agosto do Ano da Graça de 1827.

Pedro, criava por Decreto, os dois primeiros Cursos Superiores brasileiros, na cidade de S. Paulo, e nesse Decreto estava escrito que os formados, “podiam ser chamados de doutores”, implicitamente dizendo que assim seria sem que fosse necessário sê-lo em Medicina.

O Pedro de que aqui falamos, como outros Pedros de que porventura poderíamos falar e que também carregam culpas, foi o nosso Rei D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil. O culpado disto tudo!

Ora, falando de D. Pedro, relembro o que todos sabemos e nos orgulha. El Rei legou o seu coração à cidade do Porto, homenageando-a. Coração esse que, guardado a cinco chaves, precisa de mil cuidados para a sua conservação. Será por isso o maior tesouro que a cidade tem.

Há cerca de dez anos que cientistas brasileiros pretendem fazer uma biópsia ao coração que é nosso, mas os perigos de provocar a sua degradação sempre foram considerados enormes, e por isso sempre foi negada essa autorização.

Espanta, portanto, que se tenha noticiado há dias que o coração do “Rei Soldado” tão bem guardado e cuidado na Igreja da Ordem da Lapa, e que está na cidade desde Fevereiro de 1835, tenha sido autorizado pela Câmara Municipal do Porto, a ser trasladado para o Brasil, dizem que temporariamente, no âmbito das comemorações do bicentenário da independência desse país.

A notícia, essa, veio a público a 23 de Junho, meio escondida nas comemorações do “nosso” S. João.

Como portuense, nascido e criado e sempre tendo vivido na minha cidade, aqui votando, digo que não compreendo nem concordo.

Para mais, não tive conhecimento dessa pretensão, antes de ser noticiada a trasladação, nem me consta que tenha havido qualquer discussão pública. Tudo parece ter sido orquestrado por vontade do sr. Presidente da Câmara, com o parecer favorável do Instituto de Medicina Legal do Porto. E mais nada!

Até qualquer dia, Pedro. A culpa foi tua, mas a cidade do Porto não merecia ser castigada pelo dr. Rui.

Luso.eu - Jornal das comunidades
José Fernando Magalhães
Author: José Fernando MagalhãesEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
Para ver mais textos, por favor clique no nome do autor
Lista dos seus últimos textos



Luso.eu | Jornal Notícias das Comunidades


A sua generosidade permite a publicação diária de notícias, artigos de opinião, crónicas e informação do interesse das comunidades portuguesas.