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Um dia no concelho de Oleiros





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            Oleiros, concelho cujo território é banhado pelo rio Zêzere. Hoje, por causa da seca, talvez seja correto escrever «humedecido». Oleiros, terra do pinheiro‑bravo, de serras, ribeiras e praias fluviais. Chamavam‑me a Igreja Matriz da vila, o grande espaço sem gente, cada vez mais apreciado por este escriba com marcas idiossincráticas de anacoretismo, e também a interioridade, sempre a lembrar que ali estamos no lado malpropício do mundo (uma das estradas que o GPS selecionou para me guiar de Castelo Branco a Oleiros fez‑me sentir medo).

            A Igreja Matriz foi construída por ordem de D. Manuel I e tem Nossa Senhora da Conceição como orago. O seu espaço intestino é um prodígio de cor e de talha dourada, disseminada por cinco retábulos. Os azulejos são coisa de tomo. Compõem os silhares que ornam as paredes laterais do templo e, agregados em dois painéis, forram a capela‑mor. Uma composição azulejar hispano‑mourisca reveste o altar‑mor. O teto divide‑se em caixotões pintados. As colunas dos retábulos, vermelhas, são espiraladas e exibem recamo de parras, cachos de uvas, pássaros e putti. No melhor pano cai a nódoa: o cinzento sem graça nem adorno do púlpito e das colunas que separam as três naves da igreja.

            Só guardo boas memórias do almoço no Callum, que fica no Hotel Santa Margarida e achou nome numa casta de uva autóctone de Oleiros. Com ela se produz vinho branco de nota intensa e baixo teor alcoólico. Da ementa com timbre regional, elegi, para começo de repasto, farinheira de Oleiros com ovos mexidos e pão frito. Prevalecia o cheiro e o paladar forte da farinheira, logo ganhei boa boca. Seguiu‑se a empada de cabrito estonado, guarnecida por batatas fritas e legumes. O sabor das batatas fazia estalar os beiços, o chibo combinava com a massa folhada. O cabrito estonado é especialidade local. Nos respetivos preparos, não se esfola o bicho. Depois do abate, ele vai a escaldar e os pelos são‑lhe retirados. A pele fica limpa e, durante a assadura, reforça o sabor e a apetibilidade do cabrito. Rematei com tigelada da Beira, sápida e com alentados traços de mel e canela. Quanto à pinga, a escolha recaiu num Diálogo tinto, de 2020, vinho suave, com laivos florais e de frutos vermelhos. Serviço magnífico, a cargo de duas jovens. Na Beira Baixa, o Callum foi o restaurante de que mais gostei.

            Havia marcado encontro pós‑prandial com João Mateus, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Oleiros. Ele dirigiu a minha visita à Igreja da Misericórdia e à Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens. A primeira data do século xvɪ e seduz o viajante graças ao retábulo de talha dourada da capela‑mor. As suas quatro colunas torsas são vermelhas e levam decoração de pâmpanos, cachos de uva e pássaros, tudo auricolor. No retábulo policromo da Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens preponderam as esculturas que representam Santa Maria Madalena, Santa Catarina e a padroeira.

            Finda a giravolta por esses espaços do sagrado, demorei‑me em conversa com João Mateus, que me falou das atividades da instituição que gere. Reforcei ciência acerca do papel das misericórdias no apoio a velhos e a infantes (creches e pré‑escola), percebi amor ao próximo, passei a ter outro apreço pelos humanos.

            Na aldeia de Álvaro, o xisto é a matéria mais usada na construção. No entanto, escondido por frontes rebocadas e pintadas de branco, ele pouco se mostra.

            Quem chega a Álvaro tem diante de si, em nível inferior, mas no cimo de uma encosta, um lugarejo que semelha um minhocão branco cuja cutícula levou pigmento vermelho. O minhocão parece estar em letargo.

            Tirei partido da vista para o Zêzere e, em tal povoado que se ufana de ser aldeia de fé, visitei a Capela da Santa Casa da Misericórdia e a Igreja Matriz. O acesso ao património religioso de Álvaro implica pedido a fazer numa lojeca de venda de produtos regionais existente no centro da localidade. Para me abrir as portas e acompanhar na curta peregrinação, saiu‑me em sorte uma mulher educada, mas antipática e desconfiada. Entre outras singularidades, recusou‑se a dizer‑me quantas pessoas viviam na terra. Quis conhecer o porquê da nega, respondeu‑me que a maioria da população era idosa, mais não queria acrescentar. Terei eu cara de assassino de velhinhos?

            Da Capela da Santa Casa da Misericórdia, erguida no século xvɪ e mais tarde reformada, saliento, no presbitério, o retábulo de talha dourada e o teto de caixotões com painéis de madeira nos quais estão representados santos. A capela alberga um museu liliputiano onde deparei com ex‑votos, sinais de gratidão popular que gosto de ver. Dentre os casos bicudos que lhes deram origem, fixei o de uma mulher que havia espetado um fuso de ferro no seu peito e o de uma senhora prestes a dar à luz que um soldado desertor esfaqueara.

            Quanto à Igreja Matriz, devotada a São Tiago, o retábulo da capela‑mor aparenta feitura simples e contrasta com os lavores delicados patentes na parte posterior dos quatro altares da nave. A peça que mais cevou o meu interesse foi um sacrário de pedra de Ançã, do século xvɪ.

            Pedi à dita senhora que me abrisse as portas da Capela de Santo António e da Capela de São Sebastião. Evidenciando inflexibilidade que eu antecipara, declarou que só lá ia com grupos e a tal não se prestou. Admito que assim seja, mas enxerguei redobre no seu olhar.

            O torrão oleirense é matéria do Portugal profundo, aqui o corroboro. Antes de deixar Álvaro e seguir para Idanha‑a‑Nova, vi, no tronco de um rapaz, uma t‑shirt do Paris Saint‑Germain. Enquanto estive no concelho de Oleiros, só desse jeito a estranja se fez notar.

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Paulo Pego
Author: Paulo PegoEmail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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