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Um dia no concelho de Condeixa-a-Nova





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            Conímbriga, estação arqueológica situada em povoado que os Romanos tomaram no século II a. C. e urbanizaram no tempo de Augusto, transformando‑o numa bela cidade (que incluía casas de estalo, fórum e termas) e num centro administrativo de relevo.

            Durante as horas que a meteorologia clemente ali me concedeu, demorei a vista nas ruínas das casas patrícias. Por feitiço dos jogos de água, dos mosaicos e do peristilo principal, na Casa dos Repuxos, dos mosaicos e do peristilo, na Casa da Cruz Suástica e na Casa dos Esqueletos, e da pluralidade de peristilos, no palacete que terá pertencido a Cantaber, a esses sedimentos de vida folgada se agarrou o meu sentido estético. Em Conímbriga, o mosaicismo atingiu o ponto mais alto na Casa dos Repuxos, atente‑se nas representações dos temas mitológicos, das cenas de caça e dos motivos geométricos. A Casa da Cruz Suástica vale, sobretudo, pela cromia das tesselas dos cubículos e pelo efeito visual das cruzes suásticas no triclínio. Para os Romanos, a cruz suástica era símbolo que ensejava boa sorte.

            A maquete exposta no Museu Monográfico de Conímbriga ajuda a desvelar quão monumental era o complexo do fórum.

            Já na sede do concelho, almocei n’O Regional do Cabrito, restaurante em que se põe brio no serviço. A garrafeira tem qualidade. Eu bebi o vinho da casa, uma pinga do Peso da Régua aveludada e com final cheio de virtudes. A ementa arrolava três especialidades do estaminé — cabrito assado, chanfana e risoto Portobello —, uma lista curta, mas cuidada, de acepipes, dois pratos de peixe, sete de carne e igual número de sobremesas. Achando‑me em Condeixa‑a‑Nova, sem irresolução pedi o chibo, que chegou tenro, com paladar marcado e escolta de batata assada e grelo. Mereceu a mais elevada nota, não há mácula nem desdouro que lhe possa apontar. O Regional do Cabrito conhecera nova gerência havia pouco tempo. À chefia resta‑me desejar que todos os clientes fiquem tão satisfeitos como eu.

            No Café Aquário provei o doce típico da vila, a escarpiada, feita com massa de pão, açúcar amarelo, azeite e canela. Para embeber a escarpiada, fazia falta calda abundante e de sabor carregado.

            Sem explicações e com maus modos, uma mulher de rabo sobejo negou ao filho a bola de Berlim que ele queria e ofereceu‑lhe uma pata de veado. O petiz pediu talheres, a mãe recusou‑lhos e forçou‑o a usar um guardanapo para prender o bolo entre os dedos. Enquanto o miúdo comia, a criatura chamou‑o de badalhoco duas vezes e repetiu as maneiras rudes. Acercou‑se deles uma amiga da senhora, sentou‑se e, durante a conversa que se seguiu, esta chegou a entressachar as palavras com afagos na testa da recém‑vinda. Desditoso catraio, incomodou‑me o peso da falta de sentido maternal que sobre ti se abate, raiaram em mim, cauterizando, memórias do pai que tenho.

            Contemplei dois imóveis que lustram Condeixa‑a‑Nova, o Palácio dos Sás e o Palácio dos Figueiredos, e entrei na Igreja Matriz, cujo orago é Santa Cristina. Erguida no século xvɪ, foi destruída pelas tropas napoleónicas em 1811 e reedificada ainda no século xɪx. Dessa centúria veio a feição neoclássica da fronte.

            A Casa‑Museu Fernando Namora está instalada no edifício onde Namora residiu com os pais, que exploravam um estabelecimento comercial no piso térreo. A minha retentiva fixou os quadros pintados por Namora (Vista de Pavia, designadamente) e por outros artistas (como Retrato de Fernando Namora, pastel de Victor Palla, e Rostos, óleo de Malangatana), e também o que é costumeiro apreciar no pouso de um escritor, o espaço de criação: o escritório ou, quando menos, a recriação deste. Quanto ao meu espírito, cada vez mais embiocado em casulos, deixou‑se levar por traços de caráter de figuras que encontrei na obra de Namora, traços que me afastam das outras pessoas e que me impedem de ter os humanos em grande conta: tacanhez, alma pequena, maledicência, inveja, ingratidão e dissecção da vida alheia.

            Regressei ao orbe romano visitando o PO.RO.S - Museu Portugal Romano em Sicó. O museu trata a romanização das terras de Sicó e apresenta várias dimensões da existência sob a égide de Roma: vida privada e vida social, artes, termas, saúde e higiene, urbanismo e governo da cidade, mundo rural, crenças religiosas e res militaris. Fá‑lo de modo interativo e com recurso a sons, palavras e imagens. Por vezes, senti que participava na rodagem de uma série de ficção científica ou de um filme futurista.

            Fiquei a saber que, com as legiões, viajava uma corte composta por juristas, cobradores de impostos, ferreiros, oleiros, prostitutas e, amiúde, pelas famílias dos militares. Tomei nota da representação da deusa Fortuna nas paredes das latrinas, os Romanos acreditavam que ela os protegia dos males provenientes dos esgotos.

            Diverti‑me na sala dedicada à vida íntima e à sexualidade. Quanto mais os pais tentavam impedir os filhos de espreitar as cenas de teor sexual, mais as crias se esforçavam por vê‑las. Espero que o casal de Famalicão que impediu os seus rapazes de frequentar as aulas de Cidadania e Desenvolvimento não visite o museu. Creio que, se o fizer, logo pedirá o seu encerramento ou, pelo menos, o fecho da sala em apreço.

            Vista a obra do ser humano, cumpria observar a da natureza. Rumei para as Buracas do Casmilo. No caminho, cruzei aldeias mergulhadas em letargo, nas quais os cães se permitiam dormir na estrada a fim de aproveitar a sombra. As ditas buracas são uma formação geológica resultante de incasão. Nelas, onde alguns percebem agigantadas bocas, afemencei eu olhos, olhos separados por matéria lítica que faz as vezes de nariz.

            Nas últimas voltas que dei no concelho de Condeixa‑a‑Nova, reparei, na aldeia de Campizes, num restaurante cujo nome é o mais feio que já vi em estabelecimentos comerciais: Pariz Tí Isaura. Tal desjeito não beliscou a agradável jornada em terras de Condeixa.

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Paulo Pego
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