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Regresso a Borgloon





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            Num sábado de fevereiro voltámos a Borgloon. Pouco importava o frio. Heliófilos e fartos de estar em casa, o que para nós contava era o sol, a luz. No trajeto, o habitual: parqueamentos das áreas de serviço à beira da E40 pejados de camiões paquidérmicos, pás das turbinas eólicas em rotação ininterrupta e a estese que o mundo rural belga oferece, consequência de feliz composição entre terra bem amanhada, peneplano coberto de verde e casario bonito.

            No posto de atendimento turístico de Borgloon, os funcionários foram prestáveis mas, a exemplo do que acontece em serviços semelhantes da Flandres, grande parte dos folhetos e brochuras estava impressa apenas em neerlandês. Não sei se isso radica na clivagem linguística existente na Bélgica, certo é que revela uma postura diminutiva. E tanto mais o deplorei ao saber que o posto de turismo abre ao público todos os dias. Informações úteis noutras línguas concitariam o excursionista a multiplicar as visitas a Borgloon.

            Por sorte, havia um desdobrável com texto em francês relativo aos trabalhos, dispersos por várias zonas de Borgloon e executados no âmbito do projeto pit, que pretendíamos ver: Proximity Effect, de Paul Devens, Twijfelgrens (Fronteira da dúvida), de Fred Eerdekens, e Untitled #158, de Aeneas Wilder.

            Proximity Effect é um dispositivo acústico instalado no interior da igreja de São Servácio, em Groot‑Loon. Ele permite escutar sons gravados fora da igreja, em locais diversos. Aguardámos alguns minutos e, porque não os ouvíamos, interpelei uma mulher que varria o chão da nave tão concentrada como o esculápio na mais difícil cirurgia. Parca no verbo e claramente ajoujada pela vida, só soube responder «Kapot!» (avariado). Procurei apurar datas previstas para o conserto, a resposta foi a mesma. Quando proferiu o segundo «Kapot!» já estava de má sombra e não insisti. Ficou a recordação da igreja, que tem adorno minimalista, e do desgracioso cemitério que a circunda, com túmulos em mau estado e lápides que o decurso dos anos e a falta de manutenção desaprumaram; se fosse propenso a crendices, diria que naquilo houve dedo do Diabo.

            A marcha por carreiros e vias rurais até ao ponto em que se encontra Twijfelgrens teve as comuns virtudes purificadoras das voltas na natureza. Só nos detivemos diante de um hotel de abelhas, coisa que nunca havia visto. Uma pequena estrutura de madeira na qual as abelhas solitárias — ou seja, aquelas que não vivem nas colmeias — fazem os ninhos. Este género de albergue contribui para a preservação das espécies de abelhas e, em decorrência, para a polinização de várias espécies vegetais. Dito de outro modo: enquanto agentes polinizadores, as abelhas têm parte na reprodução das plantas.

            Nos seus trabalhos, Fred Eerdekens usa amiúde palavras que de algum jeito o tocam. Assim sucedeu com «twijfelgrens», o termo que forma uma escultura colocada em encosta dos arredores de Borgloon. Como noutras obras de arte e do espírito, não prevalece o óbvio. O visitante vê primeiro uma linha policurva na paisagem e só mirando do sítio certo discerne «fronteira da dúvida». Quando o logra, está voltado a sul, a direção em que se situa a fronteira linguística entre neerlandês e francês. Não é inocente, a escolha de Eerdekens. E é correta, tais são as apreensões que a clivagem linguística semeia acerca do futuro da Bélgica e, direi mesmo, da possibilidade de viver com gosto no plat pays.

            Seguimos para o alto onde fica Romeinse Villa, de Hans Lemmen. À beira do caminho, as campainhas‑brancas faziam‑se notar. Embora minúsculas, a sua cor alva sobressaía e criava um contraste cromático em todo aquele quadro campestre. Se tudo é verdade de relação, pegando pela cor elas eram afinal grandes.

            Romeinse Villa é um conjunto de cinco bancos de betão que memora as vivendas e a presença dos romanos nesta província. Não se integra no projeto pit, é desengraçado e exibe cor esmaecida. A escultura que representa um homem romano e um animal só piorou a composição. Salvaram‑se as vistas e as hastes de salgueiro que a Jūratė apanhou para enfeitar a sua casa.

            Voltámos ao carro e fomos a Kerniel. Aí, num terreno em declive, avulta Untitled #158, grande estrutura com ripas dispostas em círculo. É possível aceder à parte interna e girar no corredor que acompanha a forma da construção e que, diz‑se, evoca um claustro. Confesso que não senti nenhum apelo ou acicate de tipo espiritual ou religioso. No entanto, vi cumprida a missão estética da obra de arte. Não apenas por Untitled #158, mas também pela sua integração no local.

            De Kerniel vim com um só lamento: não poder visitar a abadia de Colen, propriedade interdita a estranhos. Aí prepondera un vrai bijou, o relicário de Santa Odília, uma das companheiras de martírio de Santa Úrsula.

            A jornada em Borgloon aproximava‑se do fim. A Jūratė tinha trazido vitualhas, fizemos uma breve refeição. Sentia frio, bebi bastante café. Certeiro é o hábito norte‑europeu de servir dose generosa de café em chávena grande, não o expresso.

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Paulo Pego
Author: Paulo PegoEmail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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