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            Na primeira hora da nossa visita à Costa Nova do Prado, mal despregámos os olhos dos palheiros. Tanta cor e tanta fotogenia aprisionam a atenção. Ao longo do tempo, os palheiros tiveram usança diversa: serviram para guardar aprestos de pesca e foram lugar de salga ou de secagem do peixe. Hoje são casas de habitação, permanente ou temporária. No edificado da Costa Nova, há casas modernas onde não é feliz a utilização das linhas próprias dos palheiros.

            Noutros estilos, gostei da Vila Santos — só perde o charme por mor da esplanada que instalaram no piso térreo —, da Casa João Félix — funde modernismo e elementos inspirados na arquitetura local — e da Casa João Senos da Fonseca, que lembra a proa de um barco e foi desenhada pelo proprietário, conhecedor de engenharia naval.

            Focados na observação dos palheiros, poucos atentam no pequeno edifício em que funciona o posto de turismo da Costa Nova. Outrora uma estação náutica, o seu risco e as suas cores enchem‑no de graça. A muita gente passam igualmente despercebidas as esculturas de pedra de Paulo Neves, que aos peixes foi buscar as formas e nos palheiros achou inspiração para os traços coloridos dos seus trabalhos.

            Almoçámos no restaurante Dóri, gozámos a vista para a ria de Aveiro. Serviço impecável, boa ementa em matéria de carne, peixe e marisco. Comemos, à laia de antepasto, lulas fritas, apaladadas e crocantes. Prosseguimos com pregado grelhado, arroz, grelos e migas. Estranhei ver arroz a acolitar peixe grelhado, mas, ante o sabor divino do arroz, logo esqueci perplexidades. Pedimos ainda musse de manga e morgado do Bussaco. A primeira foi credora de laurel, os ovos moles do segundo careciam de gosto mais intenso.

            Estavam amesendadas perto de nós duas senhoras que, através dos signos zodiacais, justificavam as condutas dos seus familiares e amigos. Certa vez, na Alemanha, uma mulher perguntou‑me, com ar de quem sabia a resposta, se os brinquedos sexuais dirigidos ao prazer feminino me fascinavam. Eu disse‑lhe que sim e ali, no Dóri, percebi que ser aquariano subjaz a tal fascínio.

            Comprámos tripas da Costa Nova. Achámo‑las enjoativas, indigestas e, depois de três ou quatro dentadas, deitámo‑las fora.

            Fartos de multitudes e de tráfego denso, abalámos para a zona em que o Estado Novo, por intermédio da Junta de Colonização Interna, implantou a Colónia Agrícola da Gafanha. Fê‑lo no âmbito de uma reforma agrária que visava fixar população, converter os trabalhadores rurais em proprietários, redimensionar as explorações agrícolas e aumentar a produtividade. A experiência não frutificou, pois do solo arenoso não lograram os colonos obter aproveitamento. Houve quem cedo fizesse as malas, outros ficaram por ali e dedicaram‑se a mesteres de índole diversa. Falei com a neta de um colono, que, no atinente à exploração da terra, me disse que hoje apenas subsistem hortas. O debuxo de algumas casas foi desvirtuado e elas converteram‑se em atentados à estética. No café localizado perto da capela, ouvi uma conversa telefónica entre dois jovens. O que me soava a estranho contraste talvez seja normal naquelas idades: o tom da palra foi cordato e desprovido de troça, mas o chavalo ali presente tratava o seu interlocutor por «cabrão».

            A Capela de Nossa Senhora da Penha de França, no complexo da Vista Alegre, foi construída no século xvɪɪ por ordem de D. Manuel de Moura Manuel, bispo de Miranda (do Douro), e adquirida em 1816 por José Ferreira Pinto Basto, fundador da companhia de cerâmica. Duas torres sineiras, enchapeladas por coruchéus, flanqueiam o pano que, sobre o portal, ostenta um nicho com imagem da padroeira e do Menino. No interior, vários tesouros competem por atenção: retábulos de mármore e de talha dourada, azulejos pintados por Gabriel del Barco — artista espanhol que em Portugal deu início ao Ciclo dos Mestres, fase importante da azulejaria portuguesa —, tetos decorados com frescos — representação da Árvore de Jessé, na nave, e da Assunção, na capela‑mor —, arcossólio e túmulo de D. Manuel de Moura Manuel, ricamente alfaiados, feitos de pedra de Ançã e obra de Claude Laprade.

            No Museu da Vista Alegre, interessei‑me pelas peças que retratam tipos portugueses, mormente Minhota, Pescador da Apúlia, Alentejana, Ribatejano e Tricana com cântaro. Pela sua significação, demorei‑me na sala em que fica patente o cuidado com um conjunto vasto de necessidades dos trabalhadores, um zelo que alcançava, inter alia, a habitação, a creche para os filhos e condições para a prática de atividades desportivas e de recreio. Hoje, em pleno século xxɪ, desassossega‑me assistir à regressão de direitos sociais e verificar que há empregadores que, mesmo em tempo de prosperidade, se mantêm somíticos e nem salários dignos pagam.

 

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Paulo Pego
Author: Paulo PegoEmail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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