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Jornada em Viseu





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        O centro de Viseu predispunha ao passeio. As igrejas estavam abertas. A vida golfava de todo o lado, mas não havia coortes nem turismo de massa. Declinando‑se em azáleas de belas cores, a primavera reivindicava os seus direitos. Eu e a Jūratė reconhecemos uma cidade que estima as formas e a pedra herdadas de tempos idos.

        Afeiçoada pelo Barroco e pelo Rococó, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, do século xvɪɪɪ, está situada num parque e beneficia de agradável enquadramento paisagístico.

        Olhar para o seu frontispício, quiçá o mais bonito de Viseu, é um prazer. Branco e demarcado por cunhais em jeito de pilastras, encimados por urnas, exibe duas tarjas. Nele foram abertos dois janelões, um óculo e um portal, todos com bordadura ornamental. A empena, em curva e contracurva, termina num frontão em cujo vértice se encontra uma cruz colocada em plinto. À direita, recuada relativamente à frontaria, predomina a torre sineira, em riba da qual se descortina cúpula bulbiforme.

        O miolo da igreja tão‑pouco desilude. A capela‑mor era palco de operações de restauro, mal a pudemos apreciar. Na nave, cativaram‑me os púlpitos, dotados de baldaquino e com cartelas douradas nos guarda‑corpos, os retábulos de talha dourada, e também os painéis azulejares alusivos a São Francisco que decoram as paredes laterais. No coro alto, junto da balaustrada, sobrepuja um órgão de tubos do século xvɪɪɪ, igualmente com talha dourada.

        Admirámos o imóvel do Banco de Portugal, da primeira metade do século xx — a fronte, as colunas, os plintos em que estas assentam e os dois corpos laterais rematados por cúpulas materializam o gosto pela grandiosidade —, os paços do concelho, de lineamento neoclássico, e o painel azulejar do Rossio, de 1931 e pintado por Joaquim Lopes, com cenas de feira e figuras da ruralidade beirã.

        Seguimos pelo Jardim Das Mães, onde prepondera O melhor sono da nossa vida, escultura de José de Oliveira Ferreira: aninhado junto da mãe, um petiz dorme.

        Francisco de Almeida Moreira (1873‑1939), militar, professor e colecionador de arte, fixou estampa na vida cultural de Viseu e promoveu o turismo na cidade. Fundou o Museu Grão Vasco, de que foi o primeiro diretor. Deixou à sua terra a casa onde vivia e o respetivo recheio, nela foi instalado o museu que leva o seu nome.

        No que respeita à pintura, aí predomina o pincel naturalista. Vi telas de Silva Porto, Alfredo Keil, Marques de Oliveira, José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro, António Ramalho e Luciano Freire. Arrecadei na memória a transmissão da ruralidade em Paisagem, Figueiró dos Vinhos, de José Malhoa, e a expressão do rapaz em Garoto, Quinta da Várzea, de Luciano Freire. Da coleção de cerâmica, destaco um prato de terracota, das Caldas da Rainha e feito no século xɪx, que é uma ode aos símbolos nacionais, e ainda, da mesma centúria, uma terrina‑galinha e uma terrina‑pato.

        Aonde quer que vamos, acarretamos connosco experiências e gostos que nos definem. Não escapo à regra e isso explica que, mais do que ter apreciado esta ou aquela peça do acervo, tenha saído tocado por algo que retirei da personalidade de Almeida Moreira: conheceu outros mundos, mas sempre cultivou o vínculo à sua terra.

        Almoçámos n’O Legado, fora do centro de Viseu. Dele falarei noutro texto.

        De novo no coração da cidade, passeámos no Adro da Sé, praça bonita e local privilegiado para observar a Catedral de Santa Maria, a Varanda dos Cónegos, a Igreja da Misericórdia e o Museu Nacional Grão Vasco, tributo de grande monta prestado ao pintor Vasco Fernandes, conhecido por Grão Vasco.

        No que tange às obras de sua autoria patentes ao público no museu, a que mais atraiu o meu tento foi o painel que mostra São Pedro sentado num trono. A composição e a monumentalidade impressionam. Considerei marcante a expressividade da figura do protagonista, a sua aparência majestática, a lida com as roupas que veste, a minúcia e o cuidado postos no tratamento do respetivo rosto. Os episódios da vida de Pedro registados nas partes laterais do painel, com imagens de dimensão muito menor que a do trono e do apóstolo, vincam a pujança da representação do claviculário. Sob o painel, encontra‑se uma predela, trabalho de Vasco Fernandes e de Gaspar Vaz.

        Dentre outras peças de escol que integram o acervo do museu, menciono uma píxide de marfim decorada com bonitos lavores, do século xvɪ, procedente da Serra Leoa, e uma escultura barroca que representa Santa Ana e a Virgem, de Claude Laprade, feita de madeira dourada, estofada e policromada.

        Gostei da grei viseense. É certo que com ela só mantive trato superficial e não raspei o caráter de ninguém, mas, independentemente de volteios ou considerações, eu e a Jūratė sentimo‑nos em casa.

        Numa esplanada, à sombra, achámos refrigério para o corpo e descansámos o espírito. Aí deparei com a única criatura que, em Viseu, me causou embirração. Uma mulher que afetava maneiras de dama e que criticava a sua interlocutora por esta não saber inglês. Sucede que a primeira cometia, ela própria, erros de português. Desgraçada senhora: via uma pedra nos olhos da outra, mas não topava o pedregulho que tinha nos seus. Demais, preenchia condição agravante, é dizer, recordava‑me uma tia minha que, como ela, é sandia e emprega modos afetados. Uma tia na qual tudo soa a falso.

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Paulo Pego
Author: Paulo PegoEmail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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